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A Revolução de Jasmim começa a dar flores

A Revolução de Jasmim começa a dar flores

26 outubro 2011 - 16h50
Financial Times

Os tunisianos enviaram ondas de choque pelo mundo árabe em 14 de janeiro deste ano ao derrubarem seu ditador desprezado, Zine el Abidine Ben Ali. No domingo, enquanto as revoluções que a Tunísia desencadeou continuam a fervilhar em outros países, o país mais uma vez transmitiu um sinal de esperança à região conturbada, promovendo a primeira eleição da primavera árabe. A nova classe de políticos do país - tanto os vencedores quanto os vencidos - precisa agora completar o que começou, consolidando os hábitos da democracia em um país que por muito tempo foi privado dessas liberdades.

As eleições do domingo foram um bom começo. Observadores internacionais as avaliaram como livres e justas. Os cidadãos entusiasmados participaram em massa. O que foi igualmente importante foi que as eleições aconteceram em pouco tempo - apenas nove meses após a queda do antigo regime. Esse desenlace estava longe de ser garantido. As eleições no Egito foram adiadas, e a Líbia está apenas agora emergindo de oito meses de conflito. O fato de a Tunísia ter evitado esses perigos pode ser atribuído a sua população, seus políticos e suas forças armadas admiravelmente contidas.

Mas, ao mesmo tempo em que comemoram essa conquista, os novos líderes tunisianos precisam recordar-se que eleições não passam de meios para chegar a um fim. Como mostrou a turbulência pós-eleitoral na Argélia em 1991, o que acontece após as eleições é tão importante quanto o que acontece durante as eleiçõs.

A tarefa imediata dos políticos eleitos no domingo será redigir uma nova Constituição, abrindo o caminho para eleições plenas em 2013. Mas o partido islâmico moderado Nahda, que conquistou o maior número de votos no pleito do domingo, também enfrenta um desafio maior: casar as necessidades de uma sociedade aberta, tolerante e democrática com a crença do islã político em leis divinamente orientadas. Na Turquia, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) chegou perto disso. Mas isso ainda não foi tentado com êxito no mundo árabe, e a campanha eleitoral tunisiana foi marcada por vários enfrentamentos entre secularistas e islâmicos.

Os primeiros sinais são animadores. Ao mesmo tempo em que anunciava sua vitória, o Nahda indicou que estaria disposto a formar uma coalizão com partidos secularistas como o Congresso para a República, que teve o segundo maior número de votos, e o Ettakatol. Durante a campanha, o xeque Rachi al-Ghannouchi, líder do Nahda, afirmou repetidas vezes o compromisso de seu partido com a proteção dos direitos das mulheres e enfatizou que o modelo que o partido espera emular é o do AKP, na Turquia.

Contudo, embora as credenciais moderadas de Ghannouchi estejam claras, as da base do Nahda não são igualmente evidentes. Um dos maiores desafios para o xeque será controlar os impulsos dos elementos mais reacionários de seu partido.

Será igualmente importante fazer a economia tunisiana decolar. A revolução de jasmim começou como um protesto contra o desemprego amplo e a desesperança econômica que caracterizaram a Tunísia sob a égide do cleptocrata Ben Ali. Esses problemas permanecem - o desemprego entre os jovens está em 23% --, e a revolução trouxe problemas adicionais. O turismo, que era responsável por 7% do produto nacional, ficou paralisado, e a economia está prevista para crescer menos de 1% este ano. Se os tunisianos não sentiram que sua sorte vai melhorar rapidamente sob a nova liderança, o regime terá dificuldades.

Neste ponto, o Ocidente tem como ajudar. Em maio o Grupo dos Oito prometeu crédito de US$20 bilhões à Tunísia e ao Egito nos próximos três anos. A Tunísia ainda não recebeu nenhuma parte desse valor. O Ocidente deveria acelerar esse processo e dispor-se a fazer mais, se for necessário.

Se contar com a ajuda certa, a Tunísia terá a sorte a seu favor. Ela fica perto dos mercados europeus, sua população é instruída e ela possui a maior classe média da região. Nem todas essas vantagens são compartilhadas pelos outros países da região, o que significa que não será fácil reproduzir seu sucesso. Mas o país proporcionou à região um exemplo animador a seguir.

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

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