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Ex-PM acusado de matar menino João Roberto é absolvido

Ex-PM acusado de matar menino João Roberto é absolvido

25 novembro 2011 - 13h50
G1


O ex-policial militar Elias Gonçalves, acusado de matar em 2008 o menino João Roberto Soares, foi absolvido na noite desta quinta-feira (24), em julgamento no 2º Tribunal do Júri, no Centro do Rio de Janeiro. Ainda cabe recurso à acusação.

Durante a audiência, Elias se declarou inocente. Ele afirmou que fez apenas um disparo para o chão na noite da morte do menino. E acusou o outro ex-PM que estava na viatura de ter efetuado os disparos que matou a criança.

Em 11 de dezembro de 2008, o outro ex-PM, o primeiro a ser julgado, foi condenado a sete meses de detenção, em regime inicial aberto. Mas ele teve a pena suspensa pelo prazo de dois anos e teria de prestar serviços à comunidade durante um ano. O Ministério Público recorreu e a sentença foi anulada em 2009. A 7ª Câmara Criminal determinou que o acusado fosse levado a novo julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a data ainda não foi marcada, informou o TJ.

A decisão desta quinta-feira foi dada pelo júri popular, em sessão iniciada nesta tarde, e lida pelo juiz Jorge Luiz Le Cocq D'Oliveira, do 2º Tribunal do Júri, por volta das 21h50. Os pais de João Roberto deixaram o local antes do resultado.

João Roberto foi morto a tiros dentro do carro em que estava com a mãe, a advogada Alessandra Amorim Soares, e o irmão dele Vinícius, então com 9 meses, na Tijuca, na Zona Norte. A Promotoria diz que policiais militares deram os disparos que vieram a matar o garoto. Na época, policiais disseram que estavam atrás de supostos criminosos quando atiraram.

Para o defensor público Marcelo Machado Fonseca, as provas apresentadas durante a defesa foram determinantes para a decisão do júri. Durante a tréplica, o defensor exibiu, por diversas vezes, as imagens gravadas pelo circuito interno de segurança de prédios vizinho ao local do crime. Segundo ele, o vídeo mostra que o ex-PM não atirou contra o veículo da vítima.

"A Defensoria Pública exibiu todas as provas existentes nos autos e o júri se convenceu de que o Elias era inocente. Foi um conjunto de provas. Os laudos periciais, os exames, as provas técnicas e os documentos existentes nos autos, todos compravaram que o Elias, que portava apenas uma pistola, não efetuou disparos de armas de fogo contra o carro de dona Alessandra", disse.

Há ainda a alegação de que o menino João Roberto morreu com três fragmentos de projétil. O defensor alegou, ainda, que projétil de pistola não fragmenta, apenas o de fuzil, arma carregada pelo outro PM: "A perícia constatou que o que causou a morte do pequeno João Roberto foram fragmentos de munição de fuzil e era um fato em controverso que o acusado Elias só portava uma pistola e, pelo conjunto de provas, o júri se convenceu de que ele era inocente", disse.

Elias foi acusado por homicidio qualificado e duas tentativas de homicídio qualificado.

Defesa mostra documento
A defensoria pública apresentou um documento que diz ter obtido com a Polícia Militar, que, alegou, ser o registro de gasto de munição de cada policial. De acordo com a defesa de Elias, o colega dele gastou 21 balas, enquanto Elias apenas uma. O documento estaria assinado por um capitão e pelos dois acusados.

"Aquele documento é datado pela Polícia Militar e ele estava nos autos, e mostra a quantidade de munições que foram gastas naquela ocasião", disse o defensor Marcelo Machado Fonseca.

PM diz que foi pressionado para mentir
Ao responder os questionamentos do promotor do Ministério Público, Elias disse que mentiu quando respondeu ao processo administrativo. Segundo o MP, o discurso dele nesta quinta foi diferente.

Elias alegou que mentiu porque foi pressionado pelo outro PM acusado. "Houve uma pressão por parte dele e hoje estou mais à vontade para falar toda a verdade. Eu estava com medo, pressionado", alegou.

Segundo o promotor, no primeiro depoimento prestado, no Inquérito Policial Militar (IPM), o ex-PM teria dito que efetuou o disparo na roda do veiculo. Já na delegacia, de acordo com o promotor, Elias disse que o disparo foi feito na direção de supostos criminosos. E, nesta quinta-feira (24), ele afirmou que atirou em direção ao chão.

O promotor também ressaltou que os policiais já sabiam que o modelo do carro procurado pela policia era um Fiat Stillo e o carro atingido foi um Palio Weekend. Ele ainda afirmou que o outro ex-PM acusado, cabo William, em seu julgamento disse que efetuou apenas dois disparos ao ser interrogado. O carro foi atingido por 17 tiros no total.


Ex-PM chorou ao lembrar da filha
"Me abriguei próximo ao carro, com a arma voltada para baixo, como aprendi, tentando localizar o veículo dos marginais. Depois fui saber que eles já tinham saido. Ouvi tiros e fui para trás do poste. William (o outro ex-PM acusado do crime) gritava 'a porta, a porta' e eu olhando para frente. Eu efetuei um disparo, para ver se tinha revide. Fiquei esperando e nada. Foi quando a senhora Alessandra jogou a bolsa. Mas eu não atirei no veículo, eu atirei para o chão, um tiro de intimidação", disse Elias.

Ele afirmou que o outro então PM portava um fuzil e uma pistola, enquanto ele carregava apenas uma pistola. Elias Goncalves chegou a chorar ao falar da filha, que na época tinha 3 anos e fez aniversário dias após o crime.

Ele foi o terceiro a prestar depoimento nesta tarde. Primeiramente o juiz ouviu a mãe de João Roberto, Alessandra Amorim Soares, que afirmou não ter ouvido nenhum disparo antes do fato ocorrido. Em seguida falou o Relações Públicas da PM, Rogério Leitao. Ele afirmou que os PMs deixaram de cumprir alguns princípios.

Relembre o caso
João Roberto, na época com 3 anos, foi baleado dentro do carro da mãe, na noite do dia 6 de julho de 2008, na Rua General Espírito Santo Cardoso. A advogada Alessandra Amorim Soares voltava para casa com João e o irmão dele Vinícius, então com 9 meses, quando parou seu carro para dar passagem a uma patrulha da PM.

Os policiais disseram, na época, que teriam confundido o carro de Alessandra com o carro de criminosos que estavam perseguindo e atiraram.

Indenização
Em agosto, o Tribunal de Justiça condenou o estado do Rio de Janeiro a pagar indenização de R$ 900 mil por danos morais à família do menino João Roberto. Na época, apesar de caber recurso, o governo anunciou que não ía recorrer da decisão.

A ação tem como autores os pai do menino, o irmão e as avós. De acordo com a sentença, os pais de João Roberto receberão R$ 400 mil cada, o irmão R$ 25 mil, a avó paterna R$ 50 mil e a avó materna R$ 25 mil. A família também será ressarcida das despesas com o funeral e os pais do menino receberão pensão do Estado.

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