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Mães que quiseram matar filhos falam dos perigos da psicose pós-parto

23 agosto 2012 - 16h50
IG


A psicose pós-parto, uma doença mental devastadora, mas pouco compreendida, afeta uma em cada 500 mães e pode resultar em suicídio ou mesmo em assassinato de bebês.

O período que sucede o parto é o momento em que as mulheres estão mais propensas a doenças mentais, tais como depressão ou psicose . Mas há tratamento.

A BBC entrevistou pessoas afetadas por esta doença que, muitas vezes, passa despercebida porque médicos e enfermeiras não estão preparados para identificar os sintomas ou porque, por medo do estigma, é escondida pelas mães.

A maioria das mulheres com a psicose pós-parto não tem história familiar ou pessoal de doença mental, alertam os especialistas.

'Estava cheia de vontade de matá-lo'

Jo Lyall era uma dessas mulheres. Depois que seu segundo filho, Finlay, nasceu, Jo passou por um episódio assustador. Uma noite, poucos dias depois de deixar o hospital, ela esteve a ponto de estrangular o bebê:

"Coloquei ele adormecido na cama ao meu lado, e meu cérebro simplesmente desligou", disse ela. "Era como se alguém tivesse desligado um interruptor na minha cabeça, e eu olhei para ele e estava cheia de vontade de matá-lo."

"Eu coloquei minha mão em seu pescocinho, ainda não forte o suficiente para manter a própria cabeça, e comecei a apertar. Eu não queria machucá-lo. Sabia que não devia fazer isso, mas eu queria saber se era capaz".

Jo sabia que algo estava errado, mas tinha medo de procurar ajuda, por pensar que perderia a guarda dos filhos.

Sem tratamento, ela começou a planejar como matar a si e seus dois filhos.

"Um dia, pensei em sufocar os garotos enquanto eles dormiam após o almoço", disse ela.

"Tinha que ter certeza de que os meninos e o cachorro estariam mortos antes que eu tirasse minha própria vida, porque eu não podia arriscar que sobrevivessem sem mim", acrescentou.

Jo fez várias tentativas de suicídio, mas depois de seis meses em um hospital psiquiátrico e quatro anos sob medicação, está totalmente recuperada.

Ela faz campanha pela maior consciência dos sintomas de psicose pós-parto, para permitir que médicos e parteiras ofereçam um melhor tratamento para mulheres doentes.

"Eu sobrevivi, em grande parte, devido a um médico e a uma quantidade extraordinária de sorte", disse ela. "Mas as mulheres não deveriam ter que confiar na sorte para sobreviver a uma condição tratável".

'Tinha desejo de machucá-lo'

Os especialistas não sabem a causa exata de psicose pós-parto, embora acredite-se que as grandes mudanças hormonais que se seguem ao nascimento do bebê tenham um papel importante, juntamente com a genética.

A proporção de jovens mães em risco é grande. E mulheres com transtorno bi-polar têm 50% de chances de se tornar gravemente doentes nas semanas após o parto.

Shelley Blanchard estava nesta categoria. Por isso, sua equipe médica não só monitorou sua saúde física enquanto o nascimento do bebê se aproximava, como também o seu bem-estar psicológico.

Shelley foi apoiada nos estágios finais de sua gravidez e nos primeiros meses da maternidade por uma equipe que incluía o Dr. Nick Best, psiquiatra perinatal especializado em cuidar de mulheres grávidas e jovens mães com problemas de saúde mental.

Best fez visitas regulares a Shelley, assim como a enfermeira psiquiátrica de sua comunidade.

"Uma pessoa pode passar da situação normal à psicótica, delirante e paranoica no espaço de apenas dois ou três dias", disse Best.

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