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Morte de Bin Laden causou mudanças no equilíbrio de forças da Al Qaeda

Morte de Bin Laden causou mudanças no equilíbrio de forças da Al Qaeda

02 maio 2012 - 12h17
Uol

Com a morte de Bin Laden, há um ano, a Al Qaeda perdeu seu líder máximo. Hoje, o perigo de terrorismo vem de agentes isolados e de alguns discípulos da própria Al Qaeda, avaliam especialistas.

Osama Bin Laden morreu depois de uma troca de tiros de 40 minutos entre seus guarda-costas e forças especiais norte-americanas, na madrugada do dia 2 de maio de 2011, há exatamente um ano. As tropas desembarcaram de seus helicópteros nas imediações de seu esconderijo, em um bairro rico de Abbotabad, no Paquistão. Dali, o terrorista mais procurado do mundo vinha mantendo o mundo sob tensão com suas ameaças. Hoje, sabe-se que sua influência naquele momento já era limitada.

"Ele se ocupava sobretudo da própria segurança dentro de uma casa tecnologicamente superprotegida. Desta forma, embora continuasse sendo uma figura simbólica para a Al Qaeda, Bin Laden não exercia, do ponto de vista operacional, mais nenhuma influência no planejamento de atentados terroristas", diz o especialista em terrorismo internacional Rolf Tophoven à DW.


Perda de um líder

Depois do 11 de Setembro, Bin Laden se transformou acima de tudo em fugitivo, tendo se tornado inútil para as operações da Al Qaeda. Aquele que tinha sido o rico financiador saudita da organização, acabou se transformando, preso a seu esconderijo, em um risco oneroso, que consumia muitos recursos.


Imediatamente após sua morte, o especialista Ahmed Rashid escreveu no diário alemão Berliner Zeitung: "Centenas de discípulos da Jihad estarão hoje de luto, jurando que darão suas vidas para vingar a morte de Bin Laden".


No entanto, mesmo do ponto de vista islâmico, a morte do líder acabou não servindo tanto para a construção de uma lenda em torno de sua pessoa, nem tampouco para o esperado efeito de mobilização entre radicais, previsto por Rashid e por outros especialistas em segurança de todo o mundo. Este efeito, se é que ocorreu, se deu de maneira muito limitada. "O que mudou foi que a Al Qaeda perdeu uma personalidade de liderança muito importante e até agora ninguém conseguiu substituir o carisma de Osama Bin Laden", analisa o pesquisador do assunto, Guido Steinberg.

Falta de carisma de Al-Sawahiri


Hoje, destaca-se principalmente a ausência de líderes identificáveis à frente da organização. Ao médico egípcio Aiman al-Sawahiri – que agia desde os anos 1990 como vice de Bin Laden, sendo considerado antes da morte deste a cabeça estratégica da rede terrorista – falta o carisma de seu antecessor. "Osama bin Laden atraía, em função de sua personalidade, muitos homens jovens tanto no mundo árabe quanto nos países ocidentais e no sul da Ásia. Aiman al-Sawahiri não atrai ninguém. Ele é respeitado, mas não adorado como Osama Bin Laden", diz Steinberg.

Além disso, o equilíbrio de forças dentro da rede mudou em função da troca de liderança. "Sawahiri é certamente tido como representante do braço egípcio da organização, que por sua vez desconfia das outras ramificações, como por exemplo da Al Qaeda do Magreb", completa Steinberg.

O número dois entre os sucessores de Bin Laden é Abu Jahja al Libi, considerado há muito o mentor religioso da organização. Ele chegou a ser preso em 2002 pelos norte-americanos, tendo permanecido por três anos na prisão de Bagram, no Afeganistão, mas acabou sendo libertado junto com outros prisioneiros. No ano passado, pouco se ouviu a seu respeito, exceto através de uma mensagem disseminada pela internet relacionada aos rebeldes líbios armados.

Novos e velhos centros de gravitação

Por precaução em relação à própria segurança, avaliam os especialistas em terrorismo, é possível que as novas lideranças da Al Qaeda prefiram se manter no anonimato. Guido Steinberg lembra também da existência de alguns graduados da organização, que se encontram em prisão domiciliar no Irã, gozando contudo "de uma liberdade um pouco maior" desde 2009. "Esta é a grande questão para os próximos meses e anos: até que ponto esta 'liderança iraniana' da Al Qaeda poderá assumir um papel de fato", diz Steinberg.


Enquanto isso, foram sendo formados novos centros de gravitação da Jihad. Do norte e sul do Waziristão – região localizada no noroeste do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão e de difícil controle, onde se supõe que ainda vivam muitos dos membros da Al Qaeda – muitas pistas levam, segundo o especialista Rolf Tophoven, ao Iraque. "No país," diz ele, "temos comandos da Al Qaeda. Além disso, temos também um novo núcleo: a Al Qaeda na Península Árabe, principalmente no Iêmen", completa. Ali, islâmicos armados se aproveitaram dos tumultos políticos, travando há meses lutas armadas com as forças de segurança do país. Temporariamente, os combatentes da Al Qaeda conseguiram até mesmo manter sob seu controle localidades inteiras no sul do Iêmen.

Discípulos da Al Qaeda com planos próprios

Mas desde a morte de Bin Laden outras organizações terroristas vêm chamando a atenção, entre elas a Boko Haram na Nigéria e a Al-Shabab na Somália. A primeira, ativa na Nigéria e na região do Sahel, é considerada uma seita islâmica radical, cuja meta principal é submeter a Nigéria, um país multiétnico com mais de 160 milhões de habitantes, às leis islâmicas da Sharia. O movimento foi responsabilizado pela morte de algumas centenas de cristãos na Nigéria.

Já a Al-Shabab controla parte da Somália, tendo assumido a autoria no passado de diversos atentados a bomba em vários países africanos. Em fevereiro último, a Intelceter, uma empresa norte-americana especializada na avaliação de sites islâmicos, anunciou a fusão da Al-Shabab com a Al Qaeda. Guido Steinberg relativiza o fato: "Há de fato provas de contato com os discípulos da Al Qaeda, principalmente no Iêmen e na Argélia, mas organizações como a Al-Shabab ou a Boko Haram não agem segundo instruções da Al Qaeda". Estas organizações, segundo ele, têm planos próprios, o que não as torna na realidade menos perigosas, muito pelo contrário.

Agentes isolados na Europa

Um novo tipo de terrorista inspirado no islamismo surgiu nos últimos tempos sobretudo na Europa. Em março último, Mohamed Merah, morto pela polícia em Toulouse depois de ter assassinado sete pessoas, se autodenominava um mujahidin próximo à Al Qaeda. Arid U., condenado na Alemanha à prisão perpétua, depois de ter matado em fevereiro último dois soldados no aeroporto de Frankfurt, é categorizado pelos especialistas como praticante individual de terrorismo de motivação islâmica.


Ou seja, enquanto a Al Qaeda perde forças no Afeganistão, devido à missão de forças internacionais no país, e à morte de alguns de seus comandantes pelas forças norte-americanas no Paquistão, o problema do terrorismo cresce na Europa, aponta Rolf Tophoven: "Trata-se do guerrilheiro fanático da Jihad, que se torna radical em parte através da internet e, cria sua própria célula terrorista sem liderança de terceiros". A estimativa é que este grupo de radicais seja de aproximadamente 400 pessoas em toda a União Europeia. A maioria deles vive na Alemanha, França, Reino Unido e Bélgica, segundo Gilles de Kerchove, encarregado de terrorismo da União Europeia.

Autor: Daniel Scheschkewitz (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer


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