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Economia

Quebra da safra do conilon pode deixar café mais caro para consumidor

05 novembro 2016 - 07h49Por Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura
O consumidor pode pagar mais caro pelo café nas prateleiras dos estabelecimentos comerciais, nos próximos meses, no país.

É o que sinaliza a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), relacionando o possível cenário à alta de preços do grão cru do café conilon, que subiu mais de 90% nos últimos 12 meses.

Segundo o diretor-executivo da instituição, Nathan Herszkowicz, essa elevação, jamais vista anteriormente, fez com que os preços do café conilon superassem os valores praticados pelo arábica, algo que historicamente nunca havia ocorrido.

"Estamos em um ano paradoxal. A safra de café arábica foi de bom tamanho, embora não tenha sido recorde, mas registramos uma queda muito acentuada na safra de conilon, o segundo café mais produzido e consumido no Brasil", relata.

De acordo com Herszkowicz, o café conilon do Estado de Espírito Santo, maior produtor nacional deste tipo de grão, cuja média era de 11 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), teve a safra bastante reduzida.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima a safra atual de conilon da região em 5,82 milhões de sacas de 60 quilos, um volume 30,7% abaixo do colhido no ano passado (7,761 milhões de sacas) e 45,9% inferior à produção de 2014 (9,949 milhões de sacas).

Para o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) José Milton Dallari, outros fatores também podem influenciar esse aumento dos preços do café: "Além da quebra da safra do conilon, podemos elencar a alta dos insumos ao produtor (defensivos, adubo e afins), porque tudo isso é atrelado ao dólar. Então, quando o dólar tem qualquer flutuação, há também uma flutuação nesses preços".

Fora isso, para chegar à fazenda, conforme Dallari, "os insumos dependem do transporte, que teve um aumento substancial do frete no Brasil. "Tudo isso contribui para um preço maior do café do produtor às torrefadoras e ao exportador", analisa o diretor da SNA.

O diretor-executivo da Abic afirma que esse produto que falta no mercado interno e também para a exportação de café solúvel está desestruturando o mercado doméstico, que experimenta dois efeitos simultâneos, atualmente.

Um deles é a falta da oferta de café, especialmente de conilon, e o outro é a consequente elevação dos preços dessa espécie, seguido dos preços do arábica.

"Esse quadro foi agravado nas últimas semanas, um pouco devido à questão cambial, pois, quando o preço do dólar sobe, o café aumenta de maneira que o mercado brasileiro sofre muito com a falta de oferta de café cru, uma situação que não era vivida nos últimos 30 anos", diz Herszkowicz, concordando com a opinião de Dallari.

DISPARADA DE PREÇOS

O atual cenário levou a uma disparada nos preços pagos ao cafeicultor, como apontam os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

No mês de outubro, pela primeira vez na história, o órgão registrou o conilon valendo mais que o arábica no mercado brasileiro. No período, as duas variedades acumularam altas de 13,77% e 1,3%, respectivamente.

O quadro, segundo o diretor-executivo da Abic, pode contribuir para que as torrefadoras e processadoras aumentem em 20% ou mais o valor médio do produto, em relação ao que tem sido praticado, hoje, nas negociações com as redes de varejo.

"Em consequência dessa falta de café no mercado, de matéria prima e de preços em elevação, a indústria necessariamente terá de realinhar seus preços, porque não há folga nem margem para comprar matérias primas com os preços em alta, sem fazer esse repasse", destaca.

Conforme Herszkowicz, de modo geral, as indústrias de café estão procurando negociar com o varejo, especialmente com o setor supermercadista, principal canal de distribuição, formas de repassar esses aumentos de custo aos seus preços.

"Esse repasse ainda não está sendo feito para o consumidor final, que encontra em muitos lugares o café por praticamente o mesmo preço, mas as negociações seguem aceleradas e esse repasse será inevitável", alerta.

EXPORTAÇÃO

Apesar do aumento previsto para os próximos meses, o diretor da SNA José Milton Dallari acredita que isso não terá, pelo menos nesse primeiro momento, alguma influência direta nos preços das exportações do produto.

"Até agora, houve um reflexo muito pequeno em relação às exportações, até porque o Brasil continua sendo o principal supridor mundial de café.

E à medida que o nosso café é bebida pura, praticamente, ele é blendado (misturado) com todos os tipos de café produzidos no mundo todo.

E, normalmente, os cafés produzidos na Colômbia, América Central e Ásia dependem do arábica brasileiro para ter uma qualidade melhor", informa.

O diretor-executivo da Abic também acredita que as exportações não devam sofrer nenhum tipo de alteração: "Se esse aumento vai refletir na exportação, por enquanto, ainda não foi possível observar, porque os preços do café brasileiro, mesmo aumentando em reais, estão compatíveis com as cotações mundiais", observa Herszkowicz, ressaltando que, "se a alta continuar, aí, sim, a exportação do produto brasileiro poderá ser prejudicada".

Mesmo assim, acreditando que o atual panorama não seja alarmante, o diretor da SNA salienta a liderança do Brasil nesse mercado: "A safra atual do café brasileiro está na média das produções dos últimos anos, girando em torno de 52 milhões de sacas, apesar dessa quebra na safra do café conilon, em Espírito Santo.

Apesar disso, nosso país continua sendo o principal fornecedor mundial de café, representando aproximadamente 35% das exportações mundiais".

SOLUÇÕES

Na opinião do diretor-executivo da Abic, para tentar minimizar os aumentos de custos, os setores de produção (cooperativas, exportação e principalmente as indústrias de café torrado e moído e solúvel) estão discutindo o assunto para encontrar soluções a médio prazo.

"Iniciamos a semana em reunião, na Federação da Agricultura do Espírito Santo, discutindo o problema que cada setor está enfrentando, de maneira que todos entendam que é um problema em comum e precisa de uma solução.

A primeira delas é uma recomendação ao governo, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para que aumente os leilões dos poucos lotes de café que ele tem em estoque."

De acordo com Herszkowicz, o governo tem um estoque regulador de café muitíssimo baixo, algo em torno de 70 mil sacas, quantidade que não atinge nem metade de um mês de produção: "Essa primeira ação já está em andamento, enquanto isso, estamos discutindo de que forma os setores podem se entender para não haver prejuízos nem na exportação nem na mesa do café da manhã do brasileiro".

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