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Cura de Sócrates pode depender de transplante de fígado, dizem médicos

23 agosto 2011 - 13h00
Cura de Sócrates pode depender de transplante de fígado, dizem médicos

Uol

O ex-jogador Sócrates pode precisar de transplante de fígado para se livrar da cirrose e da crise hemorrágica que o levaram à unidade de terapia intensiva do hospital paulistano Albert Einstein, na quinta-feira (18/08). Para estancar a hemorragia do estômago ou do esôfago, os médicos usaram um cateter, conhecido cientificamente por tips. O procedimento "costuma servir de preparação para um transplante de figado", segundo médicos consultados por UOL Esporte.

Na grande maioria dos casos, “o uso de tips é uma preparação para um possível transplante de fígado”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Raimundo Paraná. “ O sangramento pode ocorrer no estômago ( fundo gástrico) ou no terço inferior do esôfago e a crise coloca o paciente em risco de morte”, disse Paraná. “ O tips é usado para estabilizar o paciente nessa emergência”.

Os médicos que atenderam o ex-jogador Sócrates usaram o tips mas ainda não se pronunciaram sobre a necessidade de um possível transplante de fígado. O ex-jogador permanece na unidade de terapia intensiva.

“Se o paciente contraiu cirrose por uso de bebidas alcoólicas, por exemplo, o quadro funcional do fígado pode exigir maiores cuidados”, explicou o médico especialista em gastroenterologista, Álvaro Negromonte.

Os dois médicos estão acompanhando o caso de Sócrates pela imprensa. Por isso, tomaram cuidado ao analisar o assunto apenas com os dados disponíveis, sem conhecimento detalhado dos boletins médicos nem prontuário do paciente.

“Por uma questão ética, não estou diagnosticando o paciente. Estou conversando diante de uma hipótese que o UOL Esporte está levantando”, disse o médico Raimundo Paraná.

Sobre o sangramento do aparelho digestivo que levou Sócrates a ser internado no hospital Albert Einstein em estado emergencial, os dois médicos concordaram:

“A cirrose provoca uma hipertensão da veia portal, que traz o sangue do baço e do intestino para ser trabalhado pelo fígado. A doença gera um processo fibroso do fígado, várias cicatrizes”, explicou Raimundo Paraná. “Essas cicatrizes impedem a passagem do sangue pelo interior do órgão”.

CIRROSE NO BRASIL
CAUSAS INCIDÊNCIA TRANSPLANTES/ANO
HEPATITE C 50%
OUTRAS DOENÇAS 35%
ALCOOLISMO 15%
TOTAL 100% 2.000

FONTE: SBH
“Como a pressão portal aumenta, o sangue busca caminhos alternativos pelo estômago e pelo terço inferior do esôfago”, comentou o gastroenterologista Álvaro Negromonte.

“Mas as veias do estômago e do esôfago não estão preparadas para substituir o fluxo da veia portal. Daí surgem varizes e, com o aumento do pressão, as paredes se rompem e surge a hemorragia”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Raimundo Paraná.

Segundo Paraná, no Brasil, pacientes com varizes no estômago ou esôfago têm entre 15 ou 30% de risco de sofrer sangramento, em 12 meses. “O sangramento coloca o paciente sob risco de morte. Por isso, a instalação do cateter tips, da jugular do pescoço até o interior do fígado, é o procedimento mais indicado para estabilizar o quadro”.

Esse procedimento provoca um choque no fígado, que altera as funções do órgão, para melhor ou para pior. “Depende muito do estado do paciente e do avanço da doença, mas o transplante passa a ser uma meta”.

Paraná disse que isoladamente o sangramento não tem relação direta com o estágio avançado da cirrose. “Não sabemos que tipo de cirrose Sócrates tem, nem o grau de avanço da doença. Na escala Child, a cirrose evolui do nível A até o C. No A, o fígado tem boa funcionalidade e pode se recuperar sem transplantes. No níveis B e C, o órgão apresenta comprometimento sugestivo de transplantes”, concluiu o médico

Se os médicos de Sócrates decidirem pelo transplante, surgirão dois problemas protocolares, devido ao uso contínuo de álcool por parte do ex-jogador: “Pacientes com cirrose por alcoolismo precisam apresentar um laudo psiquiátrico que ateste a não recaída, após o transplante”, lembrou o médico Paraná. “Pacientes de cirrose gerada por alcoolismo vão para o fim da fila de transplante e só podem receber o novo órgão se houver o atestado psiquiátrico quanto ao grau de dependência e possível recaída, após abstinência de seis meses, no mínimo”, explicou o médico.

No Brasil, a metade dos casos de cirrose hepática é provocada por hepatite C. Alcoolismo, doenças autoimunes e outras moléstias são minoritárias nas causas de cirrose.

Raimundo Paraná lembrou que jogadores das décadas de 70 e 80 que morreram por cirrose foram contaminados pela hepatite C, durante infiltrações de medicamentos para diminuir as dores nas articulações, especialmente joelhos.

“Não podemos assumir que todas pessoas que tenham cirrose sejam alcoólatras”, alertou Paraná. “A maior parte dos casos de cirrose de jogadores dos anos 70 e 80 era provocada por hepatite C”, contou.

O protocolo de transplante que exige o diagnóstico psiquiátrico quanto à volta ao vício foi defendida por Paraná com dados estatísticos. ”Fazemos 2 mil transplantes de fígado ao ano no Brasil. Temos 2 milhões de pessoas doentes por hepatite C. Como a fila de transplante é grande, não podemos desperdiçar um órgão tão precioso em uma pessoa que vai voltar a ingerir bebidas alcoólicas”, finalizou o médico.

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