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Relatório secreto da PF confirma que cacique Nisio Gomes pode estar escondido em território paraguaio

17 julho 2012 - 15h40
Jornal Agora MS

O cacique Nisio Gomes desaparecido desde novembro do ano passado pode estar vivendo “de forma escondida” em território paraguaio próximo ao município de Aral Moreira.

Isso é o que afirma o Relatório da Missão da Polícia Federal que atuou nas diligências na região de fronteira em busca de informações sobre o paradeiro do cacique.

O relatório datado em 23 de maio de 2012, foi a base para a prisão preventiva de quase vinte pessoas, entre elas, o ex-policial Militar Aurelino Arce, proprietário da empresa Gaspem que fazia a segurança privada de fazendeiros da região do conflito.

O relatório detalhado da Missão feito pelos policiais federais está inserido no Inquérito Policial Federal 562/2011 que investiga o desaparecimento de Nisio Gomes.

O relatório “secreto” está no processo que tramita em segredo de Justiça e pode ser uma “luz no fim do túnel” nas investigações sobre o cacique Nísio, estopim de crise que envolve fazendeiros, líderes sindicais, seguranças, Ministério da Justiça e organizações não-governamentais internacionais ligadas a luta pela promoção dos direitos humanos.

No relatório consta que a equipe de policiais federais concluiu que o índio Nisio “não vive livremente” nas aldeias da região conforme informações do inquérito policial. A conclusão do relatório da Missão não exclui a “possibilidade de Nisio Gomes estar vivendo de forma escondida” na fronteira Brasil-Paraguai.

Aurelino Arce está encarcerado em Campo Grande desde o dia 15 de junho que a justiça decretou a sua prisão preventiva. Um pedido de habeas corpus foi impetrada pela defesa do ex-policial, mas ainda não foi julgada.

Entenda o caso

Segundo o delegado federal de Ponta Porã, Jorge Figueiredo, em recente entrevista à Agência Brasil, o paradeiro de Nísio – ou de seu corpo, caso o assassinato se confirme – ainda é um mistério. “Não podemos falar muito, mas, em dezembro, quando apresentamos nossas conclusões preliminares sobre o inquérito, o Ministério Público Federal pediu-nos que fizéssemos novas diligências, principalmente para tentarmos localizar o corpo, que ainda não foi encontrado”.

Segundo Figueiredo, a demora para localizar Nísio ou seu corpo se deve às características do crime. O cacique está desaparecido desde o dia 18 de novembro de 2011, quando cerca de 40 pistoleiros encapuzados e armados invadiram o acampamento indígena, atirando e agredindo adultos e crianças. De acordo com os índios, entre eles o próprio filho do cacique, Valmir Gomes, Nísio teria sido atingido por disparos e seu corpo levado, ensanguentado, pelos pistoleiros.

“Houve, de fato, um ataque [ao acampamento]. Isso já foi comprovado e algumas pessoas identificadas”, garantiu o delegado, lembrando que três pessoas foram presas no início de dezembro, suspeitas de participar do atentado, mas libertadas em seguida.

Durante as investigações, os agentes federais reuniram indícios de que quatro fazendeiros e um advogado haviam contratado pessoas ligadas a uma empresa de segurança de Dourados para que retirassem os indígenas da Fazenda Nova Aurora, que fica em uma área anteriormente reconhecida como sendo indígena. Além dos supostos mandantes, dois administradores e três funcionários da empresa de segurança foram indiciados.

Ainda assim, em nota, a PF informou que a pequena quantidade de sangue encontrada no local onde Nísio supostamente teria caído, baleado, indicava que, possivelmente, seu ferimento não teria sido grave o bastante para causar sua morte. Já o laudo da perícia criminal apontou que o rastro de sangue, que os índios afirmavam ter saído do corpo de Nísio quando foi carregado até uma caminhonete, não pertencia ao líder indígena.

“Ficou impossibilitado de inferir sobre suposto homicídio do indígena […] A conclusão a que chegou a Perícia Criminal, de que o ferimento de Nísio não foi suficiente para causar morte […] joga por terra a versão apresentada pelo seu filho [Valmir], que afirma que Nísio foi morto e seu corpo carregado pelos agressores em uma camioneta. Derruba também a teoria do sequestro o fato das marcas de sangue que iam em direção à camioneta”, diz a nota da PF, em que se afirma também que “os indígenas tinham conhecimento antecipado da investida e ficaram aguardando, todos pintados e também com armas (espingardas, machados e facas)”.

Valmir, o filho de Nísio, foi indiciado por denúncia caluniosa, por, segundo a PF, ter acusado de integrar o grupo que atacou a aldeia, pessoas que ele sabia não pertencer ao grupo. (Nicanor Coelho – Dourados news)

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