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Sem ruptura na Europa, País acelera no segundo semestre

01 janeiro 2012 - 16h54Por Estadão
A produção industrial brasileira rapidamente recuperou-se da crise de 2008, e no início de 2010 já havia retornado ao pico prévio. Mas desde então a indústria parou de crescer. No terceiro trimestre deste ano, a formação bruta de capital fixo ficou constante, e as indicações da produção de bens de capital são de que poderemos esperar novas reduções nos investimentos. O que explica esse comportamento? O que esperar em 2012?

Em parte a desaceleração ocorrida em 2011 deriva do exagero dos estímulos concedidos em 2010. Não era possível continuar com a expansão fiscal e com o crescimento dos empréstimos do BNDES do último ano do governo Lula. Nem era possível deixar de elevar a taxa de juros e de usar as medidas macroprudenciais para impedir a escalada da inflação. Mas isso não é tudo, porque por meio de vários canais de transmissão a economia internacional afetou a economia brasileira. Um desses canais é o do câmbio e do comércio exterior.

Na saída da crise de 2008, somente a produção industrial da Alemanha teve um crescimento semelhante ao brasileiro. Mas a Alemanha é muito mais competitiva, e superou os efeitos da valorização do euro com reformas que já haviam tornado sua economia competitiva quando ainda tinha como moeda o marco alemão, que era ainda mais forte. O Brasil não seguiu o mesmo caminho, ignorando os males do 'custo Brasil', e sua indústria foi fortemente afetada pela valorização do real.

O Brasil é uma economia fechada ao comércio internacional, mas isso se deve à imensa dimensão do setor produtor de serviços - que supera 40% do PIB excluindo governo. O setor de serviços e a agricultura não sofreram com a valorização do real. O primeiro, porque transaciona com 'bens domésticos' e o segundo, porque, apesar de aberto, se beneficiou dos ganhos nos preços de commodities.

Entretanto, como a Europa e os EUA não se recuperaram da crise com a mesma velocidade que o Brasil, enfrentando o risco de deflação, os preços internacionais de produtos manufaturados exportados e importados alteraram-se pouco. A consequência foi um enorme aumento das importações líquidas no Brasil, com reflexos na produção industrial e no estímulo aos investimentos. Para aferir o crescimento das importações líquidas temos de trabalhar com os dados físicos, no conceito das contas nacionais, que mostram as importações e exportações medidas em quantum. Atingimos em 2010 importações líquidas próximas de 6% do PIB, com o quantum das exportações constante e crescimento apenas no quantum importado. Se tomarmos em consideração que o setor industrial representa entre 20% e 30% do PIB, e que o setor de serviços, incluindo governo, vai para próximo de 60% do PIB, fica claro que esse aumento de importações líquidas teve um efeito muito grande na produção industrial. Deixamos a agricultura de lado não pela sua pequena participação no PIB, mas pelo fato de que exporta commodities, cujos preços se elevaram, fazendo com que se mantivesse como um grande exportador líquido.

O fortalecimento do real se deve apenas em parte à taxa de juros mais elevada do que nos demais países. Desde 2002 assistimos a um enfraquecimento do dólar com relação à grande maioria das moedas, inclusive o real, e esse movimento se acentuou em 2010 com a adoção de uma rodada de expansão quantitativa - o QE2 - por parte dos Estados Unidos. O Federal Reserve jogou para baixo toda a estrutura de taxas de juros: as curtas, levando a zero a taxa dos Fed-funds; e as longas, pelas compras de títulos do Tesouro de vencimentos mais longos. Com o enfraquecimento do dólar acentuou-se ainda mais o crescimento de preços de commodities gerado pelo rápido crescimento da China, o que aumentou os ganhos de relações de troca do Brasil, reforçando o fortalecimento do real.

Obviamente o agravamento da crise na Europa é uma espada pendurada sobre nossas cabeças, e pode agravar este quadro. Mas se a economia da Europa não caminhar para uma ruptura, nem todos os sinais são maus. Ainda que o Banco Central Europeu resista a funcionar como um comprador de quantidades ilimitadas de títulos públicos, terá de continuar realizando compras limitadas e a prover liquidez aos bancos comerciais, funcionando junto ao sistema bancário como emprestador de última instância. São ações que provocam um afrouxamento monetário, criando uma força para a depreciação do euro, que é importante para ajudar a Zona do Euro a superar a crise.

Não sabemos qual será a reação dos EUA, que em resposta pode iniciar uma nova rodada de afrouxamento quantitativo, principalmente diante dos efeitos contracionistas dos cortes mandatórios de gastos públicos, que ocorrerão em 2013. Mas se não o fizer, o quadro da depreciação do euro com relação ao dólar gera uma força para a queda dos preços de commodities, que é acentuada pela desaceleração do crescimento da China, que deverá atingir algo em torno de 8% em 2012. A valorização do dólar (causada pelo euro) e a estabilização ou mesmo alguma queda de relações de troca são forças que podem sustentar o real em um patamar um pouco mais depreciado do que vimos nos últimos anos. Não significa uma força enorme à depreciação do real, mesmo porque o risco da inflação faz com que as autoridades brasileiras trabalhem para moderar esse movimento. Mas altera-se o quadro vivido em 2011.

O outro sinal positivo vem das intenções do governo quanto à política fiscal. Parece que ele está determinado a manter o superávit primário elevado e não abusar da expansão do crédito por parte de bancos públicos. Se a promessa for cumprida abre-se um espaço maior para a redução da taxa de juros, que em si é um estímulo à recuperação da economia e um desestímulo ao ingresso de capitais, atuando na direção de impedir um novo ciclo de fortalecimento do real.

A soma dos estímulos monetários já injetados na economia não é pequena. A taxa real de juros de mercado de um ano já caiu para próximo de 4% ao ano, e a taxa básica de juros ainda deverá declinar nos primeiros meses de 2012. As defasagens de política monetária são longas, e ainda assistimos os reflexos das taxas reais de juros elevadas no passado. Por isso a economia ainda prossegue em desaceleração.

Um pouco de paciência permitirá que daqui a alguns meses comecem a surgir os primeiros sinais de recuperação na economia brasileira, e se a Europa não caminhar para uma ruptura teremos, na segunda metade de 2012, taxas de crescimento podendo se aproximar de valores anualizados próximos de 5%. Em um quadro como esse, a previsão é de que o final de 2012 seja muito diferente do final de 2011, com uma aceleração do crescimento econômico e uma retomada da formação bruta de capital fixo.

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