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Educação é sinônimo de recomeço para detentos

Educação é sinônimo de recomeço para detentos

12 dezembro 2015 - 09h00Por Notícias MS
Com uma vida marcada por idas e vindas de presídios e condenação que passa dos 100 anos, uma das maiores do de Mato Grosso do Sul na atualidade, o reeducando Luiz César Santos, do Instituto Penal de Campo Grande (IPCG), encontrou na busca pelo conhecimento o caminho para traçar uma nova história. Nesta sexta-feira (11), ele recebeu o tão sonhado diploma de nível superior, após ter conseguido cursar uma faculdade mesmo dentro dos muros da prisão.

Aos 55 anos, o detento se graduou em Tecnologia de Gestão de Cooperativas, pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), parceira da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) no oferecimento do ensino superior a custodiados do IPCG e do Centro de Triagem, na Capital, através da Coordenadoria de Ensino a Distância.

Além dele, o custodiado Luiz Afonso Santos de Andrade concluiu a graduação em Comércio Exterior. Essa foi a segunda vez em que internos colam grau dentro do IPCG; no ano passado, Luís Carlos Santana Júnior recebeu o diploma na área de Processos Gerenciais e atualmente cursa pós-graduação em Coaching e Liderança na unidade prisional.

Luís César conta que retomou os estudos no presídio e, em 2010, conseguiu concluir o ensino fundamental através da avaliação do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Três anos depois também foi aprovado nas provas do Ensino Nacional do Ensino Médio (Enem), o que possibilitou iniciar o curso superior. Nos bancos escolares, revela, encontrou a possibilidade de escrever uma nova história. “A educação trouxe luz para os meus olhos, eu vivia no mundo da escuridão, com olhos tapados pela ignorância e pela ganância de uma vida fácil no crime, demorei um pouco, mas consegui perceber que não valia a pena, que estava perdendo muito”, afirmou.

Dentro desse processo, o formando destaca o importante apoio da família, que sempre o incentivou, marcando também presença maciça na solenidade de colação. “Estão aqui meu pai, duas filhas, minhas irmãs e duas netas, e é por eles também que quero ser diferente, já sofreram muito por causa das minhas escolhas, agora quero ser motivo de orgulho e tenho certeza que já estou sendo”, disse.

Presente na cerimônia de diplomação o reitor da UCDB, padre Ricardo Carlos, destacou o poder transformador da educação e o papel de inclusão que a universidade precisa exercer. “Prezamos pelo ensino de qualidade e, através dessa parceria com a Agepen, podemos proporcionar a essas pessoas que estão no momento de prisão uma formação humana, voltada para valores sólidos, que, com certeza, contribuirão para uma vida melhor. Esperamos que estes homens que estão colando grau aqui hoje, sejam exemplo disso”, declarou.

Segundo o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, o sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul está trabalhando para a ampliação no oferecimento do ensino superior nos estabelecimentos prisionais. Entre as iniciativas programadas, informou Stropa, está a criação de um Polo da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) na Penitenciária de Dourados no ano que vem, com oferecimento gratuito de curso superior na área de Pedagogia aos reeducandos, ação que poderá ser estendida a outras unidades prisionais.


A solenidade no IPCG marcou ainda a conclusão do ensino fundamental e médio de 31 custodiados do IPCG, que também sonham com o diploma de nível superior e um recomeço longe da criminalidade. É o caso do interno Paulo Cesar Rodrigues Duarte, 34 anos, escolhido como orador da turma pelo comportamento exemplar e as boas notas obtidas. Com o ensino médio completo, o objetivo agora é cursar uma faculdade na área de tecnologia da informação. “Acredito que minha vida vai ser bem melhor”, afirma ao lado da esposa que fez questão de prestigiá-lo na entrega de certificados.

O desejo de ter uma graduação também é compartilhado pelo custodiado Emerson Nogueira Dias, 32 anos, que acaba de concluir o ensino fundamental. Segundo ele, o casamento precoce e as más companhias acabaram o afastando dos livros, mas o tempo ocioso no cárcere fez com que buscasse no ensino formal uma ocupação produtiva “para distrair a mente”. “Acabei entendendo a importância do conhecimento, de como tudo pode ser diferente”, garante.

De acordo com o diretor do Instituto Penal, Fúlvio Ramires, a educação, o trabalho e cursos profissionalizantes são foco das ações de reinserção na unidade. Atualmente, 221 internos estudam e outros cerca de 540 trabalham nas oficinas existentes. “Nossa meta é que possamos aumentar esses números, levando oportunidade a um maior índice possível de custodiados”, enfatiza.

No Estado, conforme o diretor de Assistência Penitenciária da Agepen, Gilson Martins, quase 2500 alunos foram matriculados nas 26 extensões da Escola Estadual Polo Regina Anffe Nunes Betine, que atende especificamente aos presídios. Para 2016, atendendo às demandas existentes, informa o diretor, já está programada a abertura de extensões escolares no semiaberto masculino de Dourados, oferecimento também de ensino médio nos presídios de regime fechado de Três Lagoas e inclusão da 4ª e da 5ª fases na unidade de Nova Andradina.

Também participaram da solenidade no IPCG o coordenador de Políticas Específicas da Secretaria de Estado de Educação, Alfredo Anastácio Neto; o coordenador de Educação à Distância da UCDB, Jeferson Pistóri; o superintendente de Políticas Penitenciárias da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, Rafael Garcia Ribeiro; o diretor de Operações da Agepen, Reginaldo Régis, e os chefes de Divisão da agência penitenciária, Rita de Cássia Argolo Fonseca (Educação) e Mauro Levermann (Estabelecimentos Penais), entre outros.

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