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Policial de Amambai também atacou profissionais da Imprensa da fronteira, dizendo que eles “se acham muita coisa, mas não são nada”

Policial de Amambai também atacou profissionais da Imprensa da fronteira, dizendo que eles “se acham muita coisa, mas não são nada”

08 novembro 2011 - 08h25
Mercosulnews

Após dar início a processo contra vários profissionais da Imprensa e veículos de comunicação de Ponta Porã, Dourados e Aral Moreira, por suposta ‘calúnia e difamação’, o delegado Marcius Geraldo Santos Cordeiro, lotado como adjunto na Delegacia de Polícia Civil de Amambai, teve a ousadia de ameaçar um dos jornalistas que ele está acionando na Justiça.

O crime ocorreu por volta 18h do último dia 26 de outubro, dentro da Câmara Municipal de Ponta Porã, diante de testemunhas. A vítima é o jornalista e radialista Sebastião Néris do Prado, 46 anos, o ‘Tião Prado’, que além de manter um programa diário na rádio Cerro Corá FM, de Pedro Juan Caballero (Paraguai) e escrever para o site Conesul News, também é assessor de Imprensa do Poder Legislativo.

Tião Prado registrou queixa da ameaça no 1º Distrito Policial. No dia 26, Marcius Cordeiro havia saído de uma audiência no Fórum de Ponta Porã, quando esteve frente a frente com profissionais do Jornal da Praça e do site Mercosul News, que estão entre os ‘processados’ pelo delegado. Ele se dirigiu à Câmara Municipal, onde estava tomando posse o novo delegado regional de Ponta Porã, Sandro Márcio Pereira,

Tião Prado contou que estava na Câmara Municipal trabalhando e naquele momento conversava com o promotor de Justiça Upiran Jorge Gonçalves da Silva, de Dourados e com o colega de Imprensa Ednilson Ramão Vilhalba (Ed Moreno), quando surgiu o delegado Marcius Cordeiro, que interrompeu a conversa e agarrou o jornalista pelo braço, em tom de ameaça, dizendo que era o autor do processo também contra Tião Prado.

De acordo com Tião Prado, o delegado advertiu-o de que “as coisas não vão ficar assim” e que iria fazer de tudo para que o jornalista fosse “condenado” e pagasse “o que a justiça determinar”. O delegado também atacou a imprensa da fronteira, dizendo que “os jornalistas de Ponta Porã se acham muita coisa, mas na realidade não são nada disso”. Publicamente constrangido e se sentindo ameaçado, Tião Prado disse que conseguiu se soltar do delegado e se retirou, deixando-o ‘falando sozinho’.



REAÇÃO

A reação dos profissionais da Imprensa da fronteira à agressão policial foi imediata. Todos os veículos de comunicação que estão sendo acionados pelo delegado consideraram a atitude de Marcius Cordeiro uma afronta à liberdade de imprensa, ao direito de expressão e comunicação e também um desrespeito ao Poder Judiciário. Cópias do boletim de ocorrência estão sendo anexadas ao processo e encaminhadas à Corregedoria da Polícia Civil e às organizações internacionais de defesa da classe, como Sinjorgran (Sindicato dos Jornalistas da Grande Dourados), Repórteres Sem Fronteira (RSF) e Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).



Entenda o caso

Alvos de matérias e críticas de opinião pública por não desenvolverem suas funções da forma como a população espera, delegados e ex-delegados da Polícia Civil que atuam ou atuaram em municípios da região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai decidiram processar jornais, sites e profissionais da Imprensa por terem divulgado reclamações da sociedade. Ao invés de corrigirem os supostos erros cometidos, eles preferiram ir à Justiça pedir indenização por ‘danos morais’.

Entre 2005 e 2006, um artigo de opinião do escritor e jornalista Paulo Rocaro, editor-chefe do Jornal da Praça e do site Mercosul News, relatou a situação caótica em que se encontrava a Polícia Civil no município. Um retrato fiel das péssimas condições da instituição na fronteira, que vinha prejudicando as ações dos investigadores e do próprio SIG (Serviço de Investigações Gerais).

À publicação da reportagem seguiu-se uma investigação da Corregedoria Geral da Polícia Civil, cujos integrantes recorreram ao Jornal da Praça e aos sites locais para terem acesso a todas as matérias referentes ao caso. Dias depois a direção geral da instituição promoveu o remanejamento de vários os delegados da fronteira.

Com o desfecho rigoroso que se seguiu à ação da Corregedoria, três delegados de Ponta Porã decidiram processar o jornalista, exigindo indenização por danos morais: o ex-delegado regional Sebastião Portes de Cerqueira, a então titular do 2º Distrito Policial, Sônia Maria de Andrade e a então titular da Delegacia de Atendimento à Mulher, Sônia Barbosa Figueiredo.

Após as investigações da Corregedoria, Sebastião Cerqueira foi transferido para Fátima do Sul e depois aposentado; Sônia de Andrade foi removida do 2º DP para a Delegacia da Mulher e Sônia Barbosa foi mantida como ajunta na DAM de Ponta Porã.

Outro delegado que está processando a Imprensa é Marcius Geraldo Cordeiro, que em maio deste ano foi denunciado por acadêmicos da cidade de Amambai que estudavam em Ponta Porã, por supostamente se recusar a registrar um boletim de ocorrência contra um escrivão de sua delegacia, pelos crimes de abuso de poder e por colocar em risco a vida dos alunos que viajavam diariamente em um dos três ônibus que fazem o transporte até Ponta Porã.

Apesar de não ter tido seu nome divulgado na época e de seu superior imediato ter apresentado versão oficial à Imprensa, Marcius Cordeiro entrou na Justiça contra os jornalistas que divulgaram a matéria – do Jornal da Praça e dos sites Aral Moreira News, Capitán Bado, Conesul News, Dourados News, Mercosul News e outros – exigindo o pagamento por “danos morais”. Os processos tramitam nas Comarcas de Ponta Porã e de Amambai.

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