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Ponta Porã

Unidade penal de Ponta Porã ensina fabricação de tijolos ecológicos e prepara internos para uma profissão

20 dezembro 2014 - 10h30Por Notícias MS
Mais do que a redução do déficit carcerário de Mato Grosso do Sul com obras de construção, ampliação e melhoria das unidades penais, o objetivo do governo do Estado, por meio da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), é garantir a ressocialização dos internos por meio da realização de diversas oficinas de trabalho. É devolver os detentos à sociedade com um ofício que eles aprenderam na própria unidade.


A obra entregue na manhã desta quinta-feira (18), no Presídio Masculino Ricardo Brandão, que ganhou mais de 200 metros quadrados de área construída, representa bem esta iniciativa. A obra foi executada pelos próprios detentos e contou com a orientação e supervisão do arquiteto da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Fábio Alex Correa. “Para nós é fundamental a questão do trabalho para a reinserção dos detentos à sociedade. Com esta iniciativa eles veem outros horizontes e percebemos a melhora em todos os aspectos, como a própria autoestima e planos futuros. Hoje posso dizer que eles são profissionais e têm a capacidade de saírem daqui e tocar a vida nesta área”, comentou.




A mão de obra é tão qualificada que o arquiteto explica que os tijolos fabricados na unidade ganharam o reconhecimento até de empresas. “Recebemos dos empresários elogios em relação à qualidade do tijolo. Isso só é possível pela mão de obra dos internos e também pela organização e disciplina adotados pela direção”, afirmou Fábio.


Oficinas de trabalho e reinserção

No Presídio Masculino de Ponta Porã, 80% dos presos trabalham nas 16 oficinas em funcionamento, entre elas de rodos e vassouras, beneficiamento de crinas de cavalo para exportação, marcenaria, costura, serralheria e também a olaria. Na visita que fez hoje na unidade penal, o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Wantuir Jacini, ressaltou a importância do trabalho dos servidores do sistema prisional do Estado para a reinserção dos detentos à sociedade. “Essa reinserção social é composta pelos eixos de trabalho, educação e saúde. Os internos que absorvem o conhecimento destes eixos estarão reinseridos na sociedade. A missão dos servidores é da reconstrução humana”, disse, enaltecendo o trabalho da direção daquela unidade.

Opinião compartilhada pelo diretor-presidente da Agepen, Deusdete Oliveira, que elogiou o trabalho desenvolvido nas unidades, principalmente com a parceria “a seis mãos”. “Com esta iniciativa reduzimos custos, envolvemos os internos neste trabalho com harmonia”, salientou. A Agepen implantou em todos os presídios do Estado diversas oficinas e salas de aula. A iniciativa ganhou a colaboração de pelo menos 170 parceiros, que geram emprego e renda. Para cada três dias trabalhados eles têm um reduzido no total da pena aplicada pelo juiz.


Um projeto gratificante que está transformando a vida das pessoas, avaliou a presidente do Conselho da Comunidade de Ponta Porã, Silvania Gob Monteiro. “Estou à frente do Conselho há cinco anos e vi aqui sair do nada e ter essa transformação absurda. Uma parceria bacana que se estabeleceu com a realização de diversas oficinas”.

O projeto também tem conquistado novos parceiros, como o empresário de Campo Grande que levou serviços de fundação do solo para auxiliar nos trabalhos de construção dos novos espaços da unidade penal de Ponta Porã. “Quando vejo um trabalho assim, sensibiliza a gente pelo interesse social. Aqui eles aprendem e vão levar essa conversa para outras pessoas e tudo melhora”, destacou.


De volta à sociedade, mas com uma profissão


O mestre de obras Edelson Arraes, de 34 anos, é um exemplo de que com a força de vontade e uma oportunidade para aprender pode traçar uma nova vida. Há um ano e seis meses cumprindo pena na unidade de Ponta Porã, hoje ele coordena 30 detentos na obra de ampliação do presídio. Ele já tinha trabalhado na área, mas foi na unidade penal que tomou gosto pelo segmento. “Aqui a gente se sente capaz. Quando entramos temos uma perspectiva negativa da vida e hoje saímos com mais autoestima. Você ensina os companheiros, mas quem aprende somos nós. Saio daqui preparado para atuar em qualquer área”, afirmou.




Ademir Felipe Correa, de 50 anos, trabalha na fabricação de tijolos e está na unidade há quatro anos e um mês. Ele disse que fica contente em saber que o seu trabalho e dos outros companheiros está rendendo elogios. “A gente fabrica aqui um tijolo de primeira qualidade e é um prazer enorme saber que as pessoas elogiam. Tudo isso aqui é valioso para quem saber aproveitar a iniciativa. Saio daqui com o objetivo de recomeçar uma nova vida”, disse. O reeducando tinha uma pequena noção do ramo da construção civil, antes trabalhava com autopeças. Na unidade ele aprendeu o ofício, que vai levar para vida toda. “Posso pegar uma casa com quatro peças para fazer sozinho que dou conta”, admitiu.

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