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A novela das seis trocou de horário com a das nove?

A novela das seis trocou de horário com a das nove?

14 outubro 2011 - 13h20
Folha

A receita da Globo se mantém há anos. Às seis da tarde, quando as criancas já estão em casa mas os maridos ainda não, entram no ar tramas mais leves, com uma dose de humor e muitas de fantasia. Clássicos da literatura, romantismo desenfreado, talvez um certo apelo místico.

Já para a faixa as nove, a mais nobre da casa, os ingredientes são outros. Aqui imperam o realismo, as traições, os filhos bastardos. Até o sangue é liberado: nada como "um quem matou?" para segurar a audiência.

A fórmula consagrada admite variações aqui e ali, mas nada de grandes desvios. Os públicos dos horários são distintos e as expectativas também. Até que "Fina Estampa" e "A Vida da Gente" estrearam com menos de dois meses de diferença uma da outra, e viraram esta equação de cabeça para baixo.

Como eu já havia dito antes, a novela de Aguinaldo Silva é praticamente uma comédia de costumes. O contraste é total com os vilões psicopatas e a hecatombe generalizada de sua antecessora, "Insensato Coração". As antagonistas Griselda (Lília Cabral) e Teresa Cristina (Christiane Torloni) não se suportam - mas, se chegassem às vias de fato, só sairiam com alguns arranhões.

Aliás, acho que Griselda é uma personagem ainda mais inverossímil do que a Norma de "Insensato". Não sei em qual planeta uma mulher conhecida como "Pereirão", que não raspa o buço nem tira o macacão, entortaria a cabeça de dois homens boa pinta, um deles muito bem de vida.

Mas é disso o que o povo gosta: "Fina Estampa" está fazendo sucesso, talvez porque milhões de donas-de-casa Brasil afora se identifiquem com a personagem principal. Além do mais, quase todas as tramas paralelas são inconsequentes: só o drama de Celeste (Dira Paes), que tem um marido brucutu, não tem nada de saltitante.

Enquanto isto, no horário das seis, o bicho está pegando. Aqui também é grande a diferença de tom em relação à novela anterior, "Cordel Encantado". Saem o folclore nordestino e os contos de fada, entra um caminhão que abalroa um carro capotado e o arremessa num lago. Foi um dos desastres mais espetaculares da história da televisão brasileira, porque foi em três etapas. E ainda teve um desfecho emocionalmente impactante, quando Manuela (Marjorie Estiano) precisou escolher se salvava primeiro a irmã ou a sobrinha.

"Fina Estampa" também teve sua cota de acidentes automobilísticos, mas lá os personagens só sofreram escoriações. Aqui a mocinha Ana (Fernanda Vasconcellos) permanecerá anos em coma. Por mim, tudo bem: a verdadeira protagonista de "A Vida da Gente" é a megera da mãe dela, Eva - finalmente, um papel na TV à altura dessa enorme atriz que é Ana Beatriz Nogueira.

Essa inversão de fórmulas está dando certo no Ibope, sinal de que o público não quer ver sempre a mesma história. Agora as atenções se voltam para o recém-inaugurado horário das 11h: quais ousadias serão permitidas às sucessoras de "O Astro"?


Tony Goes tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas.

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