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A pele do futuro: células-tronco começam a ser usadas para amenizar rugas

A pele do futuro: células-tronco começam a ser usadas para amenizar rugas

08 maio 2012 - 16h20
MarieClaire


Não é exagero dizer que a década de 80 marcou a história da beleza. Foi quando surgiu o uso do ácido retinoico e, com ele, o início de uma ciência que conhecemos hoje como Medicina Estética. Agredir a pele quimicamente para trazer uma nova à tona foi uma descoberta que inspirou tantas outras. Surgiram novos ácidos, menos e mais agressivos. O Botox, os preenchedores. E com base no princípio de regeneração da derme, aparelhos com laser e luz pulsada. Agora outra revolução — que atende pelo nome de terapia celular — promete deixar o envelhecimento como algo do passado.

Assim como estão sendo usadas em outras áreas da medicina, a dermatologia começa a lançar mão das células-tronco para tratar rugas, sulcos, flacidez e cicatrizes. O método é sofisticado e simples ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, as células que garantem elasticidade e hidratação diminuem na derme (camada interna da pele) e com isso, surgem as rugas e os sulcos. O objetivo da terapia é repor essas células perdidas e com isso reparar os danos. Como? Essas células são encontradas em vários tecidos do corpo, especialmente nos adiposos. Então, o médico tira um pouco de gordura de lugares estratégicos como abdômen, bumbum, joelho e manda para o laboratório para ser processada. Lá, é separada em duas partes. Uma delas é armazenada em uma centrífuga, enquanto o restante é usado no processo de extração das células-tronco. Depois disso, as duas partes são misturadas novamente, resultando em uma estrutura de gordura com elevada concentração de células-tronco. Voltam para o médico e ele injeta em lugares que precisam ser reparados, em geral aqueles que perdem mais elasticidade como ao redor dos olhos, da boca, nos sulcos. “As células se multiplicam e geram novos tecidos. Como são do próprio corpo, não há risco de rejeição”, diz a dermatologista Marcela Vaccari, de São Paulo.

Silicone natural Esse mesmo princípio tem sido usado na Áustria e na Inglaterra para aumentar os seios. O método é semelhante ao da pele. No consultório médico, com o auxílio de uma agulha e anestesia local, essa mistura é injetada na base do seio da paciente. Antes de passar pelo procedimento, é necessário usar um expansor mamário, para garantir espaço para receber as células. De acordo com os especialistas que já utilizam o método, a vantagem é que ele deixa o resultado mais natural que o silicone. Além disso, seria mais eficaz que o antigo método de lipoenxertia (que injeta gordura de outra parte do corpo nas mamas). Isso porque as células-tronco não são reabsorvidas pelo organismo e ainda têm a capacidade de produzir fator de crescimento, estimulando novos vasos sanguíneos e potencializando a produção das células vizinhas. Boa parte dos médicos brasileiros, no entanto, ainda desconfia da novidade. “Os estudos mais recentes não mostram como o organismo reagiria ao longo do tempo. Acho que são necessárias mais pesquisas antes de aderir a essa metodologia”, afirma o cirurgião-plástico Carlos Fernando Gomes de Almeida, do Rio de Janeiro.

Os dermatologistas também são cautelosos no que diz respeito à técnica para o rejuvenescimento, embora muitos usem e aprovem os resultados. Mônica Aribi, de São Paulo, é um deles. “É muito novo, por isso é preciso analisar caso a caso. Só aplicamos em pacientes que já não têm resposta com outros métodos, por exemplo”, diz. O dermatologista Jardis Volpe, de São Paulo, concorda. “Dá viço e vitalidade à pele, mas não age em peles manchadas pelo sol. Acho que a técnica ainda vai se aperfeiçoar”.

Estudo Alguns especialistas são reticentes ao método por acreditarem que a multiplicação celular pode causar problemas na pele — inclusive tumor. Os estudos realizados até agora, entretanto, têm se mostrado positivos. É o que afirma Radovan Borojevic, diretor científico do Excellion, único laboratório autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para manipular células-tronco de gordura, Borojevic é entusiasta da técnica. “Foi aprovada pelo órgão americano FDA, que é bem rígido. Foram analisados mais de 100 mil casos de terapias celulares e não houve relato de qualquer efeito colateral”, diz. A dermatologista Marcela Vaccari, de São Paulo, também acredita que os riscos são pequenos. “São células-tronco adultas e não as embrionárias as quais se dividem mais e podem levar a um tumor, por exemplo. Neste caso, isso não acontece”. O método começa a dar resultados depois de três meses de aplicação. São três sessões por mês, com dez injeções cada — e o efeito dura pelo menos quatro anos. E, de acordo com Borojevic, também tem bons resultados contra flacidez. “Como aumenta a elasticidade da pele, melhora bem a aparência do pescoço, entre os seios e até mesmo nas mãos, que sempre mostram a idade”. Os especialistas preferem não falar em custo, mas sabe-se que um tratamento deste hoje sai em torno de R$ 15 mil.

Técnica mista O método pode ser associado a outros tratamentos, o que traz respostas ainda melhores. “As células processadas podem ser misturadas ao ácido hialurônico para preencher o sulco naso-labial (bigode chinês). O risco de rejeição ao ácido fica menor e os resultados duram mais”, diz Marcela. Uma pesquisa realizada na UFRJ acompanhou 15 voluntárias por um ano. Quatro foram tratadas apenas com ácido hialurônico para preencher rugas e sulcos. Outras seis receberam uma combinação do ácido com células-tronco. Nas cinco últimas foram injetadas somente células. “Nos casos em que é necessário preencher o sulco, a combinação com ácido hialurônico mostrou-se superior”, afirma Cesar Cláudio-da-Silva, professor de cirurgia plástica da UFRJ que coordenou a pesquisa. A razão é que o ácido garante o efeito de preenchimento imediato, dando às células injetadas tempo para se multiplicar — o que leva alguns meses.

Pesquisas avançadas O uso de tecidos adiposos na reparação da pele vem sendo estudado desde 1983, quando o médico alemão Franz Neuber publicou o primeiro trabalho sobre o assunto. As pesquisas também foram impulsionadas a partir dos resultados da lipoescultura, que foi usada há alguns anos e tem o mesmo princípio: retira-se tecido de um lugar para “moldar” outro. Os especialistas observaram que na região do corpo onde era injetada a gordura, a pele melhorava. Mas até então, não se sabia que existiam células-tronco em outros lugares do corpo a não ser no sangue. “Isso só foi descoberto em 2004, quando a pesquisadora francesa Patricia Zuk isolou as células-tronco da gordura”, diz Marcela Vaccari. Agora, o FDA aprovou também a técnica para tratar da calvície. “O cabelo volta a nascer. A aplicação poder ser injetável ou com um aparelho que faz microfurinhos no couro”, diz Mônica Aribi.

Juventude congelada No laboratório Excellion, localizado em Petrópolis, no Rio, Borojevic faz mais do que processar as células. Também congelam tecidos adiposos retirados, por exemplo, de uma lipoaspiração. Isso é bom para quem é jovem e deseja usar suas células para quando for mais velha. “As células de alguém de 20 são mais eficientes do que quem tem 60”, diz. “Mas quem fizer uma lipoaspiração aos 30, por exemplo, pode chegar aos 60 e usar as células guardadas para melhorar a pele envelhecida.”

Ação contra flacidez Outra técnica que utiliza as células-tronco poderá ser usada para tratar manchas brancas (difíceis de pigmentar) e cicatrizes. Neste caso, as células (fibroblastos) são retiradas da epiderme e não da gordura. “O método está sendo usado em queimados”, diz Borojevic. As células são incorporadas em gel com ácido hialurônico e colágeno e aplicados no lugar a ser tratado. Esses dois ingredientes permitem melhor aderência.

Os fibroblastos também estão sendo usados para amenizar a flacidez do rosto e pescoço porque, ao contrário da gordura, não preenche sulcos e cicatrizes, mas melhora a textura. A biomédica Lilian Piñero Eça, afirma que os resultados são bons. “Foi aplicado em meu rosto há três anos e estou muito feliz. Não pareço ter 57 anos e quanto mais o tempo passa, a pele fica melhor, porque os tecidos se renovam por ativarem os fibroblastos locais que formam o colágeno e a elastina. O uso das células-tronco, portanto, é promissor. É a garantia de uma pele jovem, livre de flacidez rugas sem precisar passar por cirurgia. Um sonho que vira realidade.

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