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Funai tenta impedir conflito entre índios e fazendeiros

20 agosto 2011 - 15h34Por Folha Online
A Funai (Fundação Nacional do Índio) tenta impedir que um protesto de indígenas em Mato Grosso do Sul termine em confronto violento com fazendeiros da região. Segundo relatos do antropólogo Benites Tonico, um grupo com cerca de 60 índios teria ocupado, no último dia 7, uma área na fronteira entre duas fazendas no município de Iguatemi --a cerca de 470km ao sul de Campo Grande, perto da fronteira com o Paraguai.

Eles reivindicam a terra, que tem cerca de 20 mil hectares e hoje pertence às fazendas Santa Rita e Maringá.

Desde 2005, a área é objeto de estudo do grupo de identificação e delimitação de terras indígenas da Funai.

O assessor-técnico da coordenadoria da Funai em Ponta Porã, Thiago Cavalcante, afirmou à Folha que avisou os responsáveis pelas fazendas a respeito da presença dos índios e pediu que não haja um despejo violento.

"É uma região com histórico bastante violento, os aparelhos do Estado estão relativamente longe", explicou o técnico, que não descarta um desfecho violento da situação. "A gente tem feito o máximo possível para se mostrar presente na região e dar continuidade ao assunto para ver se inibe isso", disse.

Na terça-feira (16), a Polícia Federal realizou uma diligência nas fazendas, mas, segundo a assessoria de comunicação da delegacia da PF em Naviraí, os agentes não encontraram vestígios do grupo, que pertence à etnia kayowá.

CONFLITO

Segundo o antropólogo, que é descendente da mesma etnia e mantém contato próximo com o grupo, os kayowá reivindicam a área pois teriam vivido no local até a década de 70, quando foram deslocados para um acampamento com cerca de 1.800 hectares. Hoje, os mais de 2.000 membros da tribo vivem em condições precárias na reserva ou espalhados por outras tribos, afirma Tonico.

Em dezembro de 2009 houve uma tentativa semelhante de ocupação, com o objetivo de pressionar o governo a acelerar o processo de identificação de terras no Estado, mas terminou na expulsão forçada dos indígenas. O episódio foi confirmado pela própria Funai.

De acordo com Tonico, na ocasião, os índios foram amarrados, vendados e transportados em um caminhão de transporte de bois até uma reserva indígena distante cerca de 70 km do local. Ainda segundo o antropólogo, algumas mulheres e idosos tiveram braços e pernas quebrados.

No domingo (14), o acampamento atual do grupo foi destruído, segundo a Funai. De acordo com Tonico, o grupo, que inclui mulheres e crianças, fugiu quando sentiu a aproximação de pessoas a cavalo.

O antropólogo afirmou que os índios não querem mais esperar. "Já que estão lá sofrendo [na reserva] e vão morrer mesmo, eles decidiram retornar para morrer lá. Não vão morrer mais no acampamento", disse.

Cavalcante explicou que a Funai no Estado tem seis grupos técnicos de identificação e delimitação de terras indígenas, mas todo o procedimento está centralizado em Brasília. A previsão, segundo ele, é de que a decisão sobre as áreas possa ser publicada no "Diário Oficial da União" neste semestre ou no próximo ano.

'BADERNA'

A fazenda Santa Rita pertence à família do prefeito de Iguatemi, José Roberto Felippe Arcoverde (PSDB). A reportagem falou com o chefe de gabinete do prefeito, Clodoaldo Bonkoski, que negou a presença de índios no local.

Segundo ele, desde a posse de Arcoverde como prefeito a fazenda é administrada por sua irmã.

"É tudo conversa, é uma parte podre da Funai que quer fazer confusão. Na região tem aldeia grande, sobra terra para os índios, na fazenda do prefeito nunca houve invasão indígena. Até porque a fazenda do prefeito é produtiva", afirmou Bonkoski.

Segundo ele, técnicos da Funai querem transformar "metade do Estado de Mato Grosso do Sul" em terras indígenas, "inclusive áreas dentro da capital", e por isso "trazem índios de outras regiões para fazer baderna".

"Garanto que nem são índios também, os índios na verdade estão satisfeitos com a terra que eles têm", afirmou o chefe de gabinete.

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