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Lutas de vale-tudo atraem o público feminino

29 agosto 2011 - 15h20
Como o MMA conquistou as mulheres nas TVs, nas academias e até nos ringues

Globo.com

UFC, MMA, Anderson Silva, octógono, Shogun. Talvez esses termos já sejam familiares para você. Caso contrário, é bom saber: eles se referem às lutas de vale-tudo, que têm se tornado febre também entre o público feminino. Um em cada quatro ingressos para o UFC Rio, que acontece hoje (27/8) no HSBC Arena, no Rio, foi vendido para mulheres. E muitas outras fãs vão assistir ao programa pela televisão. O canal Premiere Combate faz, a cada luta, uma pesquisa qualitativa com um grupo de 7 a 10 mulheres chamadas para assistir ao combate.

“Eu era a única que gostava de vale tudo no meu grupo de amigos”, lembra a estudante de direito Erika Ferreira de Souza, 20. Hoje, ela reúne cerca de dez pessoas para acompanhar as lutas ao vivo em casa ou na academia. “Antigamente, o esporte era visto como marginal. Foi com o Anderson Silva que o MMA começou a atrair mais atenção”, diz ela - Anderson, 35, conhecido como “Aranha”, é considerado o melhor lutador da atualidade.

A designer de móveis Marina de Salles Gomes, 31, também reúne amigos em casa para esse tipo de programa – dos 15 convidados, pelo menos sete são mulheres, conta. "Meu noivo às vezes assistia, e eu gosto muito de uma porrada. Gosto de ver um golpe legal. É meio aflitivo, mas gosto quando sai sangue. Porque aí você vê que é luta mesmo", conta Marina, que não luta, “mas gostaria”.

O fenômeno também pode ser observado nos bares. “Há uns cinco anos, apenas as mulheres dos homens interessados nas lutas apareciam. Hoje, eu posso dizer que o público das lutas é meio a meio, homens e mulheres”, diz Sergio de Jesus Pereira, 37, dono do bar Prainha Paulista em São Paulo. “O MMA é o esporte que mais cresce no mundo, e é claro que esse universo se expande para as mulheres. Elas passaram a se interessar à medida em que os brasileiros começaram a fazer sucesso. Minha esposa, por exemplo, começou a assistir às lutas comigo. Hoje isso já faz parte da rotina familiar, como um jogo de futebol.”

"Gosto da pancadaria"

E o que atrai tantas mulheres nesse festival de golpes? A estudante Paula Mattos Trapnell, 21, admite: "Gosto da pancadaria”. Ela começou a ver lutas com o irmão, que alugava fitas do Pride (competição de MMA que hoje pertence também ao UFC). “Fiquei vidrada vendo os Gracie, principalmente o Ralph e o Royce. Eles lutavam como uns doidos. Tentei lutar jiu-jitsu, mas não gostei muito de ver o cara pingando (de suor) do meu lado. Muay-tahi já é melhor - solto toda a raiva em um saco (de areia). Já assisti a uma luta de perto, em Alphaville. Fiquei bem perto do octógono, pude ouvir o barulho dos tapas e das quedas. Eu paro tudo aos sábado para assistir às lutas pela TV."

Já Aline Finotti Villares, 22, estagiária de direito, encontrou até lições de vida no vale tudo. “Sou fã não só pela luta, mas também pelo conhecimento: nem sempre a pessoa mais forte vai vencer; o mais fraco também pode. Basta usar a inteligência”, afirma ela. “Uma coisa que aprendi com o (lutador) Lyoto Machida é ter respeito pelo professor.”


Quem estuda o assunto vê a forma como as mulheres assistem às lutas de uma maneira diferente da adoração dispensada a atletas como os de vôlei, por exemplo. É uma paixão que pode ser definida pelas regras (ou falta de) e pelo culto ao corpo de um lutador. “Os homens valorizam a força e a capacidade técnica de um esporte praticado por homens e exaltam atributos vinculados à beleza quando são praticados pelo sexo feminino. Em uma sociedade de espetáculo do corpo, uma competição como o UFC, as mulheres gostam da competição e também de quem compete. São corpos bem torneados e sem pelos, em que a possibilidade de sangue e excitação é muito maior”, analisa o professor Felipe Quintão Almeida, do Centro de Educação Física e Desporte (CEFD) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), um dos autores de um estudo sobre representação feminina no MMA publicado em 2008.

Victor Belfort e Maurício “Shogun” Rua, 29, são dois exemplos de técnica e beleza. Ambos estão entre os melhores lutadores do mundo – e também entre os mais assediados. “Sempre admirei o Victor Belfort”, conta Erika. “E gosto muito de ver o Shogun lutar. Gosto da técnica dele, mas claro que isso (de ele ser bonito) tem uma contribuição também”, conta rindo a estudante, que há cinco anos pratica artes marciais mistas.

Na academia


Como Érika, várias mulheres têm se interessado em lutar também. E as academias abrem espaço para a prática das artes marciais mistas. A geógrafa Paula Campos Dell Omo, 27, adotou o esporte para curar o estresse. “Sempre quis aprender uma luta, pois acho importante para as mulheres saber se defender. Comecei a treinar e gostei, principalmente da parte das ‘luvinhas’, que é um termo que a gente usa para o exercício que simula uma luta”, diz ela, que até comprou ingresso para assistir, com dois amigos, aos combates do UFC Rio.

“O feminismo influencia essa decisão de a mulher lutar”, afirma a psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora de setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Ela sempre teve que lutar – pelo direito à reprodução, ao aborto, à proteção. A escolha de um esporte que se opõe à imagem de delicadeza de uma mulher também é uma representação de movimento (político)”, afirma.

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