O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, diz que antes de assumir o cargo teve medo que ele mesmo ou um familiar fosse vÃtima da onda de violência que assola São Paulo.
Em entrevista concedida ontem, Grella, ex-procurador-geral de Justiça, disse que demorou de "dois a três dias" para aceitar o convite de se tornar secretário e que quer melhorar o setor de inteligência da polÃcia. Eis os principais trechos da entrevista:
Folha - Qual a avaliação que o senhor faz da gestão que te antecedeu e quais são seus principais projetos?
Quando o senhor fala da Rota cumprir o papel dela, o senhor se refere ao operacional? Cumprir mandados de busca e apreensão, como vinha ocorrendo, não?
Em princÃpio não. Isso será decidido pelos chefes das polÃcias. Quando tiverem operações complexas que saiam daqui desse Centro Integrado, eles vão resolver como será feito. É papel deles. Eles são formados para isso, têm preparo para isso. Cada força, em tese, cumpre aquela missão que lhe cabe de acordo com a estrutura com a organização.
É uma questão objetiva. O senhor vai manter a Corregedoria na sua pasta?
Não há nenhuma previsão, nenhum plano nosso em alterar essa situação. Estamos preocupados prioritariamente em dotar a Corregedoria de condições de funcionalidade. Seremos intolerantes com a corrupção.
O senhor diz que vai colocar mais policiais na rua. Hoje já há quatro operações saturação e mais de 6.000 policiais temporários. Como o senhor pretende ampliar esse efetivo nas ruas?
O comandante da PM está estudando isso. Outros tipos de operações estão sendo planejadas, não mais a saturação, para serem executadas semanalmente. É evidente que sempre há uma limitação de meios. O estudo está pronto e nas próximas semanas teremos outras operações móveis nos pontos mais crÃticos da capital e da Grande São Paulo.
As que estão sendo feitas serão encerradas?
Não, elas serão mantidas. As novas serão móveis.
É a favor da transferência de chefes do PCC para penitenciárias federais?
Na verdade isso não pode ser feito de maneira indiscriminada, genericamente. Isso deve ser avaliado de caso a caso porque depende de ordem judicial.
Mas acabaram as transferências?
Não parou. Teremos outras que dependem de autorização judicial que será avaliado em conjunto.
O senhor assumiu a Segurança Pública em um momento de crise. Por que aceitou essa "batata quente" e como o senhor discutiu isso com sua famÃlia?
Reconheço que há dificuldades. Há problemas. Aceitei como um desafio e de servir, de colaborar, nesse momento.
O senhor pediu uns dias para pensar quando recebeu o convite?
O que a sua mulher falou?
É evidente que gera uma apreensão. Eu nunca esperava, nem ela esperava, mas ela me apoia em tudo. Ela acha que eu sou moço e que eu tenho chance colaborar, de servir. Eu não assumi em condições normais. Assumi em condições de dificuldade.
Quantos dias o senhor demorou para dar a resposta?
De dois a três dias.
Pesquisa do Datafolha mostrou que quase todos paulistanos têm medo que a violência atinja a si ou algum conhecido. Vendo essa crise de fora, antes de assumir o cargo, enquanto cidadão, o senhor sentiu medo de ser vÃtima da violência?
Vai ter mudanças nas diretorias das polÃcias? O senhor deu um prazo para o pessoal mostrar serviço?
Não. Nós estamos avaliando com o delegado geral, isso daÃ, nos próximos dias, haverá uma definição. Nós estamos visitando alguns departamentos, o delegado geral está fazendo alguns levantamentos, para que essa decisão não seja precipitada. Nós queremos chegar a essa decisão nos próximos dias.
E o plano de tirar a PolÃcia Civil de cidades pequenas de 5.000, 10.000 habitantes, como queria o ex-delegado-geral Marcos Carneiro. O que o senhor acha dessa polÃtica?
O que se deve essa onda de violência em São Paulo?
Nós não temos ainda uma noção final disso, uma conclusão final.
Mesmo depois de tantos meses de violência?
Isso muito se explica pela ação da repressão dos últimos tempos, da própria polÃcia. Uma repressão intensa que conseguiu apreender armas, drogas, de recursos das facções, dos bandos. Parece ter sido o fator principal e o responsável pelo desencadeamento dessa situação.
Na verdade, como nem tudo está no DHPP, nós estamos pedindo para o Decap (capital), o Demacro (Grande São Paulo), porque existem outros municÃpios, para gente consolidar todos esses dados. Não estão 100% dos casos no DHPP.
De todos os homicÃdios, quantos foram esclarecidos?
Eu posso garantir, não posso adiantar, que providências estão sendo tomadas, tanto no sentindo, quanto no outro. Já há prisão de mortes de policiais e vai haver e já há prisão contra civis. Já existem algumas e outras certamente virão.
Na segunda-feira da semana passada, em entrevista à Globo, o senhor falou em solucionar todos os casos de homicÃdio homicÃdios. Algo que parece impossÃvel....
Esclarecer, não. Eu disse investigar....
... O senhor disse que nenhuma morte ficará sem esclarecimento. Como fará isso com um DHPP que os próprios delegados dizem que está sobrecarregado? O senhor sabe qual o Ãndice de esclarecimento hoje?
Nós vamos retomar o sistema de deixar equipes no DHPP. Vai ficar pelo menos uma equipe e outra de reserva para sair junto com as equipes do DHPP. Se acontecer um caso, ao mesmo tempo, concomitante, haverá um mecanismo para disparar uma outra equipe. É isso que a gente quer. Que a perÃcia chega ao local, o mais rápido possÃvel.
Não vou fixar, falar exatamente 20 minutos, ou meia hora, porque nunca cidade como SP não dá...