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"Vi vândalo quebrando a minha loja pela TV", diz londrino

10 agosto 2011 - 12h42Por Terra
Depois de três noites de caos e medo em vários pontos da capital inglesa, a terça-feira amanheceu diferente. Com tanta destruição e sujeira pelas ruas, era chegada a hora de limpar tudo. Os residentes organizaram uma conta no Twitter (@riotcleanup), uma página no Facebook (http://www.facebook.com/londoncleanup) e um site (riotcleanup.co.uk). Os números de seguidores foram crescendo e a história se espalhando. Tudo muito rapidamente, talvez mais rapidamente do que as ações horríveis que levaram a população a se unir pelo bem da cidade.

O que se viu na terça-feira manhã nas áreas afetadas foi o sentimento de comunidade que toma conta dos londrinos (e aqui se incluem todos os que moram na cidade, independentemente de sua nacionalidade) quando eles sentem a necessidade de se reerguer. Centenas foram às ruas participar. Todos com um sorriso no rosto e muitos com uma vassoura na mão.

Pradip Pabari, 49 anos, é dono da Ash, uma loja de moda feminina na St. Johns Road, uma das ruas mais atingidas pelos saqueadores em Clapham Junction, no sul de Londres. Na segunda-feira, ele fechou o estabelecimento normalmente às 17h e foi para casa. Havia um clima de tensão pelos saques ocorridos nas noites de sábado e domingo, mas Pabari jamais imaginava ver o que viu três horas mais tarde, pela TV. "Vi um vândalo quebrando a vitrine da minha loja e várias pessoas invadindo o local e levando o que podiam. Foi bastante triste."

Depois de passar a noite em claro, Pabari chegou à loja pela manhã e encontrou somente destruição. "Quebraram as vitrines e levaram roupas, sapatos, bolsas, cosméticos e bijuterias. Um prejuízo de cerca de £ 40 mil (R$ 110 mil aproximadamente)", diz. Isso sem contar as semanas que o estabelecimento ficará fechado e os tapumes de madeira comprados para proteger a loja de novos ataques. "Vou acionar o seguro. Espero que eles aceitem cobrir o prejuízo."

Ele diz que nunca havia visto nada igual a isso acontecer em Londres. "Vi os ataques em Brixton em 1981, mas não existia o clima de terror que ocupou a cidade inteira nos últimos dias. Aquela foi uma confusão bem localizada e com um motivo bem definido (brigas de gangues). Aqui não foi nada disso, foi destruição e saque sem fundamento."

O comerciante diz que seria capaz de reconhecer os vândalos que viu pela TV atacando sua loja, mas foi categórico em afirmar que não os havia visto na região antes. "Certamente não eram meus clientes nem pessoas que circulam por aqui com frequência." Pabari enfatizou a importância da ajuda recebida dos moradores que doaram seu tempo para fazer a limpeza das ruas e lojas do bairro. "Se eles não tivessem me ajudado, eu estaria até agora limpando a bagunça. Fiquei acanhado de pedir ajuda, mas eles vieram aqui e começaram a ajudar. Foi maravilhoso!"

"Vamos defender o nosso território até o fim"
A publicitária Charlotte Childs, moradora de Clapham Junction, achou a movimentação no bairro um pouco diferente quando chegou do trabalho na segunda-feira à noite. "Cheguei por volta das 19h e vi muitos adolescentes e policiais nas ruas", conta. Cerca de uma hora mais tarde, começou a ouvir barulho de helicópteros sobrevoando as redondezas e acompanhou pela TV a destruição de lojas do bairro.

"Esta região é viva, ativa, movimentada. O sentimento de comunidade é muito forte por aqui. Eu jamais esperava que isso acontecesse nas nossas ruas", diz. Quando soube do movimento de limpeza que estava sendo organizado no bairro, se armou de uma vassoura e correu pro local dos conflitos. Chegamos às 9h, mas a rua foi liberada pra limpeza somente às 15h. Foi muito bonito ver todo mundo com o sentimento de reconstrução em si", lembra.

Outro que arregaçou as mangas e partiu para a limpeza das ruas de Clapham Junction foi o novelista Grauff Davies, 41 anos, também morador do bairro. "Este aqui é o nosso território e vamos defendê-lo até o fim. Se precisarmos ficar na rua hoje à noite pra garantir que não haja novos ataques, faremos isso."

Para ele, os saqueadores vêm de conjuntos habitacionais nas redondezas da área atingida. "Não foi um ataque a pessoas, foi totalmente materialista. Tanto que as lojas saqueadas são de tênis, roupas e celulares. Existe uma razão maior para essa confusão. Precisamos descobrir qual é. Essas pessoas precisam saber que fazem parte da comunidade, que não são excluídas."

Ele conta que, na noite de segunda-feira, os moradores do bairro se sentiram totalmente indefesos enquanto os ataques ocorriam. "Nunca vi isso em Londres nem em outros lugares. Conheço Salvador, tenho um apartamento na cidade, e também nunca vi isso acontecendo por lá."

Na porta de casa
Por volta das 20h30 de segunda-feira, Yus Nordin, 33 anos, e Michael Russell, 61 anos, ouviram uma barulheira do lado de fora de casa, em Croydon. Olharam pela janela e viram dezenas de jovens usando capuz. Continuaram observando e os viram invadir uma loja de móveis a cerca de 50 m de onde moram e atearem fogo a um sofá. A loja era a Reeves Furniture, que estava no bairro desde 1867 e era comandada pela quinta geração da mesma família.

Russell ligou para a polícia. E ouviu o que não queria ouvir. "Eles disseram que mandariam policiais quando pudessem. Estavam ocupados com confusões em outras áreas da cidade", lembra. Mais 30 minutos se passaram e o prédio todo foi tomado pelas chamas. "Quando a polícia chegou, só deu tempo de isolar a área."

Nordin conta que ventava muito e, por isso, eles sentiram muito medo do que poderia acontecer com eles, com os dois gatos que criam e com a casa em que moram. "Imaginamos que o fogo chegaria aqui em casa. Estava muito quente e o vento fez o fogo atingir o prédio em frente à loja (de onde, poucos minutos depois, uma moradora pulou da janela diretamente nos braços dos bombeiros)."

Eles então conversaram com os policiais presentes no local e foram aconselhados a deixar a casa. Se refugiaram com amigos em um bairro próximo. Por volta da meia-noite, viram pela TV que as chamas já haviam sido controladas e decidiram voltar pra casa. "Os bombeiros estavam resfriando o prédio, mas não havia mais confusão na área. Apenas destruição e muitos policiais", lembra Nordin.

Russel diz que, depois de ver o que aconteceu em Tottenham (bairro no norte de Londres, onde foram registrados os primeiros distúrbios, na noite de sábado), sentiu muita pena dos moradores. "E no instante seguinte, eu vejo o mesmo acontecer na porta da minha casa. Pior: eu não podia fazer nada."

Ele presenciou os conflitos de 1981 em Brixton e acredita que o motivo para o conflito deste fim de semana foi outro. "Não entendo por que esses jovens fizeram isso. Eles parecem estar se aproveitando da confusão para saquear as lojas. Aqui na porta de casa havia cerca de 40 jovens, brancos e negros, todos encapuzados. Podem ser de qualquer lugar de Londres", avalia.

Nordin e Russell são unânimes em dizer que Croydon é uma área muito agradável para se viver e que não pretendem trocá-la por nenhuma outra localidade. "Eles querem intimidar as pessoas, mas não vão conseguir fazer isso conosco", revela Russell.

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