Sem atendimento em Ponta Porã, paciente paga cirurgia em hospital do Paraguai
19 OUT 2011 • POR Midiamax • 23h37Midiamax
Mais um caso de negligência médica foi registrado na última segunda-feira (17) no Pronto Socorro do Hospital Regional Dr. José de Simone Netto, em Ponta Porã, MS.A jovem Tatiane Lencina Lima, 22 anos, residente no Jardim Universitário em Ponta Porã, sofreu um acidente na madrugada desta segunda-feira (17), por volta das 0h, enquanto trafegava em uma motocicleta pela Avenida Brasil [principal via da cidade], sentido centro-bairro.
Lima quebrou os dois fêmures e o joelho saiu do lugar por causa do impacto do acidente. O Corpo de Bombeiros de Ponta Porã socorreu a vítima e a levou para Pronto Socorro do Hospital Regional Dr. José de Simone Netto por volta das 0h30.
No local, a vítima recebeu os primeiros atendimentos da equipe de enfermagem. Entretanto, devido à gravidade do caso, precisaria ser atendida imediatamente por um ortopedista.
A família informou que constatou na escala de plantão no hospital, que o plantonista do dia seria o Roberto Merida Aspetti, 61 anos, que não estava no local.
O Código de Ética Médica é claro, ao afirmar no Cap. III, Art. 35 e 36, que é responsabilidade do profissional deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo (..) e afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento.
Segundo o relato da vítima, a equipe de enfermagem entrou em contato por duas vezes com o médico (por telefone) e ele teria dito que em função do horário não iria se deslocar de sua residência para fazer o atendimento.
O médico Roberto Merida Aspetti chegou ao hospital por volta das 8h30 da manhã e somente aí a paciente recebeu os primeiros socorros médicos.
Após o atendimento a paciente precisou ser transferida para o Hospital Viva a Vida, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, porque o Hospital Regional Dr. José de Simone Netto alegou que não tinha os equipamentos necessários para realizar a cirurgia.
A família terá que arcar com os custos da cirurgia já que o local é particular.
Passando a peteca
Nesta quarta-feira (19), o Midiamax entrou em contato com o secretário de saúde do município de Ponta Porã, Josué da Silva Lopes, que disse que não poderia se manifestar, pois não havia sido comunicado oficialmente sobre o caso.
A diretora administrativa do Hospital Regional Dr. José de Simone Netto, Arminda Maria de Oliveira, disse que não se manifestaria porque não é ela quem faz a escala e “por questão de ética e respeito ao colega” a reportagem deveria procurá-lo para entender o que ocorreu.
Quanto à falta de equipamento, Arminda confirma que o hospital está sem a furadeira para fazer o procedimento cirúrgico e que esta já foi solicitada há alguns dias para a secretaria de saúde que não deu prazo de entrega do equipamento.
Já o diretor-clínico, Cirilo González González, responsável pela escala de plantão, disse que estava no trânsito e não poderia confirmar a escala de plantão do dia do incidente e pediu para o Midiamax falar diretamente com o chefe de Serviços de Ortopedia, Sérgio Rocha.
Sobre a furadeira, González informou que o equipamento foi pedido por inúmeras vezes à direção administrativa, que controla as compras do hospital, e que inclusive tem vistoria do CRM (Conselho Regional de Medicina) sobre isso, e que até o momento não tem previsão de quando teria o aparelho para fazer as cirurgias no local.
Sérgio Rocha, por sua vez, afirmou que o médico Roberto Merida Aspetti, não estava na escala de plantão do dia e sim de sobreaviso, que é um plantão à distância, e quem deveria ter prestado os primeiros atendimentos seriam os dois médicos plantonistas. Ele não soube informar que seriam estes médicos.
Conselho Regional de Medicina
A assessoria de imprensa do Conselho Regional de Medicina CRM informou que não está a par do caso e que só se manifesta mediante denúncia no próprio CRM.
Contudo, a assessoria confirmou que médicos plantonistas não podem se ausentar da unidade de atendimento em hipótese alguma. E que em casos que seja necessário o afastamento é preciso ficar outro médico responsável no local, como rege o Código de Ética Médica.
O assessor jurídico do CRM, advogado André Borges, explicou que o sobreaviso não deixa de ser um plantão. A diferença é que o médico não precisa ficar no local, é um plantão à distância.
Entretanto, segundo ele, assim que contatado o médico deve se dirigir ao local e prestar atendimento. “Tanto no plantão no local quanto no à distância se o médico não prestar atendimento depois de contatado viola o código de Ética Médica”.
Indignação
Indignado com a situação, o pai de Tatiane, Sebastião Luiz Lima, 47 anos, auxiliar de serviços gerais, fez boletim de ocorrência contra o médico Roberto Merida Aspetti, na 1º DP (Primeira Delegacia de Polícia Civil) em Ponta Porã.
O B.O. foi registrado como omissão de socorro, crime previsto no Código Penal Brasileiro, em seu art. 135, que diz: deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade.