Dossiê denuncia violações na preparação do Rio para os Jogos Olímpicos

Dossiê denuncia violações na preparação do Rio para os Jogos Olímpicos

9 DEZ 2015 • POR Agência Brasil • 10h45
A quarta versão do Dossiê Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro, disponibilizada nesta terça-feira (8) pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do RJ e o Observatório das Metrópoles, diz que as violações à moradia permanecem sendo cometidas pela prefeitura da capital fluminense. O documento está sendo divulgado também em outros países, na versão em inglês.

“O dossiê demonstra que as remoções, ao contrário do que a prefeitura vinha anunciando desde o ano passado, não pararam. Estão ainda em curso e parte considerável está associada às intervenções das Olimpíadas, sobretudo em termos de mobilidade”, afirmou à Agência Brasil o pesquisador do Observatório das Metrópoles, Orlando dos Santos Júnior, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur-UFRJ), um dos coordenadores do trabalho.

Santos Júnior disse que embora haja dificuldade de se obter informações relacionadas aos Jogos Olímícos de 2016, o comitê procurou identificar as remoções associadas ao evento. “O discurso da prefeitura tem sido que no Rio de Janeiro não existem remoções vinculadas à Olimpíada, exceto da Vila Autódromo”. Para o pesquisador, porém, há uma contradição nesse discurso da prefeitura, que é negar as intervenções vinculadas à mobilidade como parte do Projeto Olímpico. “Só que, no entanto, essas intervenções estão no legado de políticas públicas”. A prefeitura, segundo ele, estaria, com isso, negando os efeitos perversos das remoções.

O Comitê Popular da Copa e Olimpíada identificou que pelo menos 4.120 famílias já foram removidas e outras 2.486 permanecem ameaçadas de remoção, por motivos direta ou indiretamente relacionados às intervenções do Projeto Olímpico.

Segurança

No que se refere à política da ordem e da segurança, o dossiê assegura que o Projeto Olímpico está muito associado à ideia de vender o Rio de Janeiro como uma cidade segura, como ocorre internacionalmente nas demais sedes dos Jogos Olímpicos do Rio. “Só que, na verdade, o projeto está associado a um processo de grande violência junto aos territórios populares, sobretudo aos jovens negros, que são as principais vítimas”. O dossiê denuncia que a política de segurança para a Olimpíada de 2016 é baseada na guerra, em extrema violência, na militarização e no racismo. “Há uma política de genocídio, no sentido que a intervenção nas favelas é tão violenta que está associada ao sistemático assassinato de jovens negros”.

O documento mostra que essa forma de violência está fundada nos autos de resistência. “Você tem semanalmente casos de violência policial associada a essa política de segurança”, disse, citando o recente extermínio, ocorrido na noite do dia 28 de novembro, de cinco jovens de 16 a 25 anos, no bairro de Costa Barros, zona norte do Rio.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), constantes no dossiê, o número de autos de resistência subiu de 381, em 2012, para 416, em 2013, no estado do Rio de Janeiro, elevando-se para 584, no ano passado. Na primeira metade de 2015, o ISP já registra 349 mortes.

Orçamento

O dossiê faz um esforço para demonstrar que, ao contrário do que afirma a prefeitura, a Olimpíada envolve mais gastos públicos do que privados. O documento procura registrar gastos que não estão contabilizados pela prefeitura, entre os quais contraprestações públicas vinculadas a parcerias público-privadas (PPPs) do Porto Maravilha e do Parque Olímpico.