Pastor preso na Operação Voucher paga fiança de R$ 109 mil

23 AGO 2011 • POR Terra • 10h50
O pastor Wladimir Furtado conseguiu, por volta das 12h de segunda-feira, reunir os R$ 109 mil da fiança estipulada para que ele deixasse a prisão após ter sido detido como um dos suspeitos de envolvimento em desvios no Ministério do Turismo, na Operação Voucher, da Polícia Federal. Com empréstimos de fiéis, amigos e da família, Furtado cobriu, no horário limite determinado pela Justiça, o cheque sem fundos de que havia se valido para ser libertado no Amapá.

"A sogra fez empréstimo consignado, a cunhada, a esposa, a irmã em Brasília. Com esforço sobre-humano e lançando toda uma família em situação de extremo endividamento, ele conseguiu o aporte para cobrir", disse ao Terra o advogado de Furtado, Maurício Pereira. A defesa do pastor agora tentará, nas palavras de Pereira, "guerrear contra essa ilegalidade", em referência à fiança. Até sexta-feira, Furtado tinha pouco mais de R$ 36 mil, segundo seu defensor.

Segundo Pereira, a decisão do juiz federal Mauro Henrique Vieira deixa todo cidadão "refém do poder Judiciário. Se passar a ser admitido no ordenamento jurídico brasileiro que o decreto de uma prisão sem fundamento precise ser revogado mediante pagamento de uma fiança absurda, estaremos em um Estado policialesco, em que a liberdade passa a ter preço".

O pedido de indenização é uma possibilidade, mas o advogado de Furtado diz que o principal é que a Justiça "reconheça a ilegalidade da fiança e restitua os R$ 109 mil, porque o juiz reconheceu que não havia elementos para manter a prisão preventiva e, mesmo assim, condicionou a liberdade do acusado a prestação de uma fiança absurda. Se ele não paga, o juiz decretaria a prisão. Isso vem a ser uma agressão ao Estado Democrático de Direito". O advogado informou que o recurso junto ao Superior Tribunal de Justiça já tramita.

A defesa havia lamentado, em entrevista ao Terra na sexta-feira, o indeferimento do pedido de redução de fiança, alegando que a Justiça impunha um "estado de miséria" ao cliente. "Infelizmente, trata-se de uma decisão nova que determina que, para uma pessoa ficar em liberdade, ela tem que cair em estado de miséria", disse Pereira.
Dono da Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística (Conectur), Furtado chegou a pedir doações de R$ 100 a R$ 1 mil de fiéis e amigos em entrevista concedida a uma emissora de TV do Amapá e cogita vender a única casa que tem para continuar livre.

Pereira nega as acusações de que a Conectur foi usada pelo pastor como uma empresa de fachada para obter convênios milionários com o governo federal. "Ele não tem recursos financeiros nem de onde tirar porque não se apropriou de valores. O dinheiro que foi creditado na conta da Conectur ele prova que foi empregado conforme o convênio. Essas provas foram apresentadas ao Ministério do Turismo, à auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) e, no momento oportuno, serão apresentadas à Justiça", garantiu o advogado ao Terra na segunda-feira.

Operação Voucher

As investigações da Operação Voucher começaram em abril, após um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) que detectou irregularidades no contrato firmado entre o ministério e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi).

A Polícia Federal informou que as estimativas são de que dois terços do convênio de R$ 4,4 milhões entre a pasta e a ONG Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) tenham sido desviados. A proposta era capacitar 1,9 mil pessoas no Estado do Amapá. Uma das beneficiárias do esquema seria a deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), de acordo com três depoimentos de testemunhas à PF. Ela é autora de emenda que destinou R$ 4 milhões para projetos de qualificação profissional na área de turismo no Amapá.

Em nota, a deputada classificou as denúncias como "caluniosas" e garantiu que seus sigilos "bancário, fiscal e telefônico estão à disposição". A assessoria de Fátima informou que "repudia toda e qualquer indicação de seu nome com recebimento de recursos de empresas ou instituições ou qualquer esquema fraudulento".