Time transforma caminhonete em "orçamento milionário" e brilha na várzea de São Paulo

Time transforma caminhonete em "orçamento milionário" e brilha na várzea de São Paulo

30 AGO 2012 • POR • 17h10
Uol

Há um ano, o time amador do Jardim São Carlos ganhou uma caminhonete. E, com o veículo, a equipe se tornou o grande destaque de 2012 da Copa Kaiser, o principal torneio amador de futebol da cidade de São Paulo. Mas, você pode perguntar, o que a caminhonete tem a ver com o rendimento em campo?

É simples: o prêmio virou dinheiro, cerca de R$ 60 mil, que foi revertido em investimentos no clube. Somando a isso um impulso financeiro de Baiano, dono do bar que funciona no CDM Jardim São Carlos e faz-tudo do clube, a equipe, que até o ano passado era figurante, está há um ano sem derrotas e tem a melhor campanha em 13 jogos da Copa Kaiser, com 31 pontos.

“A gente disputou a Copa Milton Leite [torneio importante na Zona Sul] e foi campeão invicto. Como a campanha foi muito boa, eu e os jogadores nos reunimos e começamos a falar em manter o mesmo time para a Copa Kaiser. E usar o prêmio, a caminhonete, para bancar a campanha nesse ano”, conta Baiano.

Pode parecer muito dinheiro, mas o São Carlos é um dos “profissionais” da várzea. Segundo Baiano, todos os jogadores recebem uma ajuda de custo mensal e o orçamento é salgado. “Prefiro não falar em valores, mas é alto. O dinheiro da caminhonete já foi e estamos dependendo do que eu consigo colocar e de amigos da comunidade”.

As estrelas do time são o atacante Luiz Carlos, o Luisinho, que já marcou 11 gols e é um dos artilheiros do torneio e os meio-campistas Marcinho, que passou pelas categorias de base do Bragantino, Reinaldo, que jogou no futebol da Ucrânia, e Jackson, autor de um gol de placa há duas semanas, em partida no estádio do Nacional, na Barra Funda. “A maioria dos jogadores jogou profissionalmente e complementa o orçamento com futebol de várzea. Não é uma brincadeira barata”, completa Baiano, que é o faz-tudo do time: ele é dirigente, massagista, preparador físico e até roupeiro.

Com esse discurso envolvendo investimentos altos, a identificação com o time poderia ficar de lado. Mas, segundo os jogadores, a união do elenco é grande. “O segredo foi o título do ano passado. Todo mundo viu que poderíamos ir muito longe jogando juntos. E isso faz o nosso time ficar ainda mais forte”, conta o meia Marcinho, um gigante de 1,93m que arma as jogadas da equipe ao lado de Jackson.

A carreira do meio-campista, aliás, é típica dos varzeanos. Passou pelas categorias de base do Bragantino, chegou a ser profissional em um time das divisões inferiores do futebol paulista, mas não conseguiu dar o segundo passo para viver do futebol. “Parei há uns dois anos. Cheguei a fazer testes para o Boa Vista, de Portugal, com o Paulinho, que hoje está no Corinthians. Mas depois de um tempo, você começa a ver que não vale a pena o esforço para ser profissional e não ganhar bem. Larguei o futebol, fui trabalhar. E com o que eu ganho na várzea, completo o orçamento, pago as prestações do carro, da casa”, conta.

Ficou curioso? O São Carlos joga nesse fim de semana, já pela oitavas de final da Copa Kaiser. O rival é o Juventus da Liberdade, time da Baixada do Glicério (que ganhou o nome em homenagem ao xará da Moóca), às 13h, no Campo do Jaú, no bairro de Cangaíba, na Zona Leste.