Reportagem do jornal "O Globo", publicada nesta quinta-feira, dia 28 de julho, afirma que um relatório da PF (Polícia Federal) apontou pedidos de dinheiro do senador licenciado Eduardo Gomes (PL-TO) ao empresário, Jorge Rodrigues Alves. De acordo com a PF, Gomes ainda se prontificou a atender um pedido do empresário para adiar uma portaria do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia).
Em nota, Gomes, líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, disse que os pedidos de verba se tratavam de empréstimos e não têm relação com nenhuma irregularidade.
Os diálogos foram encontrados pela PF no celular de Alves, apreendido durante a Operação Lavanderia, que investiga empresários de Tocantins por lavagem de dinheiro e organização criminosa.
No relatório, de acordo com "O Globo", a PF diz que Jorge "aparentemente" fez pagamentos ao senador e lhe pede favores de interesse da empresa. O relatório foi enviado para a Justiça Federal, com pedido para ser remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que Gomes tem foro privilegiado.
"Há, por fim, diversas conversas entre Jorge e o senador Eduardo Gomes, indicando que Jorge aparentemente paga contas para o senador e lhe envia dinheiro, assim como lhe pede favores e intercessão em assuntos de suas empresas”, escreveu a PF.
As mensagens, segundo "O Globo", contêm comprovantes de depósitos bancários para pessoas indicadas pelo senador.
Ainda de acordo com o jornal, a PF escreveu que, nos diálogos, "há elementos para se acreditar que parte dos valores movimentados pelo grupo possa ter ido para o referido senador, por meio de Jorge Rodrigues Alves, como forma de manutenção de uma boa relação, assim como para o financiamento de campanhas políticas”.
A reportagem afirma que, somados, os pedidos de Gomes a Alves em mensagens de 2016 a 2020 chegam a cerca de R$ 760 mil.
Procurado pelo "Globo", Alves afirmou que não comenta investigações que correm sob sigilo.
Mensagens de celular
Em uma das mensagens a que a PF teve acesso, do dia 3 de abril de 2020, segundo "O Globo", o senador enviou ao empresário os dados bancários de um assessor parlamentar, João Bosco Pinto da Silva, e pediu que fosse feito um pagamento para uma conta indicada no texto.
“Acha que consegue 20?”, perguntou Gomes. Alves respondeu em seguida: “Opa! Certeza!”.
Em um outro diálogo, do dia 31 de janeiro de 2019, pouco antes de Gomes tomar posse como senador, o parlamentar pede dinheiro ao empresário “para custear o buffet de uma festa”, segundo o relatório da PF.
Alves respodeu: “Como seria? Direto no buffet? Quanto? Estamos juntos, amigo”. Em seguida, Gomes forneceu os dados bancários de uma mulher.
"O Globo" procurou a mulher mencionada por Gomes. Ela pediu para o jornal conversar com seu marido. O homem, que não quis se identificar, explicou que o dinheiro era para bebidas da festa de posse do senador, e que vários amigos se juntaram para financiar o evento.
Inmetro
De acordo com a reportagem de "O Globo", em 11 de abril de 2019 Gomes e Alves tiveram uma conversa sobre uma portaria do Inmetro. Na época, Gomes ainda era vice-líder do governo no Senado. Ele se tornou líder no fim daquele ano.
Alves, que atua na área de construção civil e iluminação, queria o adiamento da portaria, que mudaria as especificações das luminárias usadas nas cidades.
Nas mensagens, de acordo com o jornal, Alves argumenta que sua empresa seria desclassificada de concorrências públicas caso a portaria começasse a vigorar.
“Preciso muiiiiito de sua ajuda”, escreveu o empresário na ocasião, segundo o jornal. “É só falar aonde”, respondeu Gomes.
Alves então explicita o pedido: “Portaria 20 do Inmetro. Precisa ser URGENTEMENTE suspensa ou adiada”.
Gomes afirma, segundo "O Globo", que falaria com o então secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa.
“Vou pedir assim que sair da presidência [...] Falo direto com o Carlos”
Alves agradece: "“Importantíssimo! Amigo, cuida de mim!”.
Três dias depois, de acordo com o jornal, o empresário enviou ao senador um novo documento sobre a portaria do Inmetro.
Na sequência, Gomes diz que, se fosse preciso, poderia até pedir a demissão da então presidente do Inmetro, Angela Flôres Furtado.
“Vou ler aqui e montar uma estratégia. Em último caso, a gente questiona via comissão de Infraestrutura. Se houver motivação de espírito público, a gente até derruba essa mulher”, escreveu o parlamentar.
Segundo a reportagem, no dia 26 de junho daquele ano, Gomes encaminhou um e-mail para Alves, no qual a presidente do Inmetro informava o adiamento da portaria.
Nota do senador
Veja a íntegra do posicionamento do senador Eduardo Gomes:
Jamais houve qualquer pagamento ou repasse ao senador Eduardo Gomes nos casos questionados. As mensagens trocadas são autoexplicativas: tratam-se de pedidos de empréstimos a um amigo, mas que não se efetivaram. Assim como não houve qualquer intermediação ou negócio irregular. No exercício do mandato, o senador somente dá seguimento a eventuais demandas quando estas são de interesse público, de forma transparente e responsável.