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Testemunhas e sobreviventes falam sobre desabamento de prédios

Testemunhas e sobreviventes falam sobre desabamento de prédios

27 janeiro 2012 - 14h20
G1

Testemunhas e sobreviventes relataram momentos de desespero após o desabamento de três prédios na noite desta quarta-feira (25) no Centro do Rio de Janeiro.

O acidente ocorreu por volta das 20h30. Um prédio de 20 andares, outro de 10 e um imóvel de quatro pavimentos ficaram em ruínas.

No momento do desabamento, quem estava no quarteirão relata ter visto muita poeira após um tremor.

Salvo pelo elevador: 'vou morrer'
No hospital Souza Aguiar, onde é realizado o atendimento aos feridos, Alexandro da Silva Fonseca Santos, de 31 anos, recebeu alta. Ele estava dentro do elevador do prédio maior, onde afirma ter se jogado para se salvar. “Foi horrível, não sei como tive discernimento de voltar para o elevador. Foi o que me salvou. Quando eu vi aquilo tudo caindo eu falei: vou morrer. Cheguei a pensar. Quando começou a cair em queda livre o elevador, aí cheguei a pensar: é hoje que não volto mais para casa.”

Alexandro não sofreu nenhum ferimento. “Eu estava no térreo. Aí comecei peguei um material para subir para o nono. Quando a porta se abriu, eu vi o prédio se esfacelando. Aí voltei para o elevador de novo, quando voltei, ele despencou, de porta aberta. Aí parou entre o 4º e 3º andar estacionado. Aí caiu o reboco por cima e danificou um pouquinho. Graças a Deus que comigo não aconteceu nada. A sorte é que estava com aparelho de celular no bolso. Daí liguei pro meu compadre que tava do lado de fora no térreo, daí que aconteceu tudo. Ele falou: fica calmo que o bombeiro vai chegar, vai te pegar”, conta.

'Só deu tempo de correr'
“Eu estava no prédio do lado, de repente, eu pensei que era o restaurante deles. Eu saí correndo desesperado do jeito que eu estava”, disse um morador, coberto de poeira. “Só deu tempo de a gente correr”, diz outro. “Quando a gente se deu conta o prédio estava vindo na nossa direção, ele começou a contar”, afirma uma das testemunhas. “A gente correu, poeira tomou conta de tudo.”

'Ela não se despediu'
Vitor chorava em busca de notícias da mulher Alessandra, que trabalhava no prédio. Ele falava com ela pelo computador quando a comunicação cessou.

“Eu estava com ela no MSN aí caiu, liguei ninguém atendia, não consegui mais falar, ela não tinha saído, ela não se despediu, não falou nada, estou desesperado, preciso saber se ela está lá ainda."

'Começou a estalar'
“Estava na fila do ônibus aí começou a estalar. Aí quando olhei entrei em pânico, que aí foi desabando, eu caí e não vi mais nada”, afirmou uma mulher que estava em um ponto de ônibus.

‘Parecia uma chuva caindo’
Rodrigo, que tomava um café em uma lanchonete próxima ao local, diz que viu uma névoa. “A sensação que eu posso descrever agora é bem confusa. Escutei um barulho muito forte, um estrondo. Parecia uma chuva caindo. Quando vi era uma névoa. A única coisa que nós conseguimos pensar era tentar abrir, uma salvação. Rapidamente não dava para enxergar quem estava ao seu lado.”

'Ele estava lá dentro'
Everton procurava pelo pai em meio aos carros de Bombeiros. “O celular está desligado, ele só sai às 21h. Na hora que o prédio desabou ele estava lá dentro”, afirmou.

'Fui o último a sair'
Alexandre Quartaroni ainda não acredita que conseguiu escapar da tragédia por 15 minutos. “Fui o último a sair de lá, fechei tudo, no caminho para casa começaram a me ligar e contar o que tinha acontecido”, diz. "Aparentemente, tudo estava normal”, complementa Teresa Andrade.

'Parecia 11 de setembro'
"A gente vê isso em filme, nunca acha que vai ver na vida real. Parecia cena de 11 de setembro, ver o Largo da Carioca tomado por poeira, as pessoas desesperadas, caindo, correndo", afirma Marcelo, que ajudou a retirar pessoas do desabamento.

'Caos total'
César, gerente de uma loja de sucos em frente aos prédios que desabaram, afirma, na manhã desta quinta, que o local virou “um caos total”. Ele conseguiu voltar ao lugar do desabamento para desligar equipamentos de sua loja. “Tudo destruído. Consegui entrar porque pedi a colaboração do Guarda Municipal porque deixamos máquinas ligadas. A loja está toda destruída. Foi uma correria muito grande.”

'Acharam corpo com o celular do meu pai'
Filha de Cornélio Ribeiro Lopes, porteiro do prédio de 20 andares que desabou, Sandra Maria Ribeiro Lopes afirmou: "Acharam um corpo com o aparelho celular do meu pai no bolso". Com lágrimas nos olhos, ela diz ter esperança de que não seria seu pai, porteiro do prédio há 20 anos. Ela saiu numa viatura da prefeitura acompanhada pora gentes da Defesa Civil.

'Ela não atendeu mais o celular'
Chorando muito e ao lado do filho, Roberto Flaviano, de 64 anos, procurava notícias sobre a mulher, Ana Cristina Faria Silveira, de 51 anos. O casal trabalhava junto em um escritório de contabilidade, no 11º andar do edifício. Ele disse que mulher sempre ficava até mais tarde na sala, para concluir documentos da empresa.

“A última vez que falei com ela foi às 20h e depois ela não atendeu mais o celular”, contou. "Minha esperança é que ela esteja presa em algum lugar. Eu não sei mais o que fazer. É uma angústia muito grande", disse Flaviano.

'Senti um bloco de concreto caindo nas minhas costas'
Gilberto Figueiredo, de 33 anos, conta que estava trabalhando no 9º andar de um dos prédios que desabou, decorando um escritório. "Quando estava indo embora senti o elevador balançar. Já na portaria senti um bloco de concreto caindo nas minhas costas e saí correndo. Foi Deus, sinto que nasci de novo", desabafou.

'É impressionante'
O diagramador Vitor Ferreira, que há apenas duas semanas trabalhava num escritório de traduções no oitavo andar do prédio de 20 andares notou ao chegar de manhã que poeira e algum tipo de cascalho caíam de andares superiores quando subiu de elevador para o trabalho. "É impressionante", diz sobre o local do acidente.

'Subi até o terraço com outras 30 pessoas'
Oadvogado Cláudio de Taunay conta que trabalhava no 16º andar do edifício vizinho a um dos três prédios que desabaram. "Ouvi um barulho muito forte, parecido com o som das turbinas de um avião. A princípio pensei que pudesse ter acontecido um acidente aéreo, mas depois vi que foi o prédio ao lado que desabou", contou, acrescentando que tentou descer pelas escadas para escapar.

"Mas no 7º andar a escada já estava destruída pelos escombros do prédio ao lado. Então, eu subi até o terraço com outras 30 pessoas que estavam no prédio. Acenamos e fomos resgatados pelos bombeiros", disse o advogado, que trabalhava numa imobiliária e ainda conseguiu salvar dois HDs e documentos importantes.

Desaparecido falou com a noiva horas antes
O alpinista Flávio Porrozzi, de 34 anos, vive uma história de amor com Tatiana há nove. Eles estão noivos. Ela conseguiu contato com ele três horas depois do desmoronamento, mas foram poucas palavras. "Só falou 'Oi, amor' pra namorada e nunca mais falou mais nada. O celular tá fora da área", disse Francisco Adir, amigo de Flávio.

Casado há um mês
Daniel Amaral, de 26 anos, casou há um mês. Com o coração apertado, a mãe dele fala com orgulho do filho recém-casado. "Filho maravilhoso, criei sempre com o maior amor, e ele retribuia também. Sei lá, não sei viver sem ele. Ele casou agora, há um mês, mas mesmo assim ligava pra mim, todo dia", lembrou Sueli Amaral, na esperança de localizar o filho.

Desaparecidos que estavam em curso
Onze dos desaparecidos faziam curso e trabalham numa empresa de informática, que ocupava seis andares do prédio mais alto. Em uma foto, é possível ver boa parte do grupo que participava de um treinamento quando tudo veio abaixo.

Kelly Meneses, de 24 anos, é uma delas. "Ele é nossa amiga há muito anos. Ela trabalha desde os 19 anos. A gente está com esperança de ela estar embaixo daqueles entulhos ali", contou o colega de trabalho da jovem, o bancário Carlos Dutra.

Bruno Gitahy, de 25 anos, falou com a mãe por volta de 20h, cerca de 30 minutos antes do desabamento, e avisou que ela podia jantar, porque ele lancharia no trabalho.

Victor Lima busca a mulher, Alessandra. "Eu tava com ela no MSN, eu liguei, aí caiu, ninguém atendia. Ela não tinha saído, ela não se despediu, não falou nada, foi muito rápido", contou, desesperado.

A mãe da jovem Sabrina Prado também buscava notícias da moça. "Ela trabalha e fazia um curso emendando. Não sei, ao menos que tenha sorte e tenha saído", disse, chorando.

"Trabalho no prédio e meu pai tá no prédio"
Ewerton Assunção Ferreira saiu do escritório de contabilidade poucas horas antes do colapso. O pai ficou. "Trabalho no prédio e meu pai tá no prédio. O celular tá desligado. Ele só sai às 21h. Na hora que o prédio desabou ele ainda tava lá dentro. Tem muita gente aí dentro", acredita o jovem.

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