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Povoado espanhol de 1593 teria existido em Mato Grosso do Sul

Povoado espanhol de 1593 teria existido em Mato Grosso do Sul

24 novembro 2011 - 10h57Por MS Já
O primeiro povoado não índio do Mato Grosso do Sul dataria do final do século XVI, é o que afirma um estudo de 2004 da pesquisadora Sandra Nara da Silva Novais, quando ela estava na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E o estudo teve relevância, tanto que o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN está apoiando a exploração do sítio arqueológico junto com a prefeitura de Aquidauana, local onde teria existido a povoação.

Santiago de Xerez seria a primeira “cidade” do Estado e dataria de 1593. Segundo os estudos, bem antes dos portugueses, os espanhóis teriam tentado se estabelecer na região onde hoje fica Naviraí e mais tarde na região de Aquidauana. Esses colonizadores teriam descido para o atual lado brasileiro por Assunção no Paraguai. Os caminhos haviam sido guiados por alianças com indígenas da etnia Guarani.

Em setembro de 2011, a prefeitura de Aquidauana organizou um seminário para explicar à população sobre o projeto e na ocasião criou-se uma carta com recomendações para gestão do espaço, que fica alguns quilômetros fora da cidade, já na zona rural.

Porém, mesmo com todos os indícios, ainda é polêmica a localização exata do antigo povoado. “Tal assunto ainda é alvo de controvérsias entre os pesquisadores. Até o presente momento não foi possível estabelecer com precisão topográfica a localização das duas localidades que sediaram o núcleo colonial xerezano”, escreveu Sandra em sua pesquisa.

“O que podemos concluir, tendo por base das evidências históricas encontradas na documentação utilizada no decorrer desta pesquisa, é que Santiago de Xerez foi fundada duas vezes. A primeira fundação ocorreu no ano de 1593, por Ruy Diaz de Guzmám, em algum ponto do baixo curso do rio Ivinhema”, descreve a pesquisadora, acrescentando que “alguns indícios provenientes de trabalhos de levantamento arqueológico” sugerem o local hoje denominado Porto Peroba, no atual município sul-mato-grossense de Naviraí como a primeira cidade.

A segunda fundação (1600-1632), teria sido descrita ora nas margens do rio Miranda, ora nas margens do rio Aquidauana. Porém, vestígios arqueológicos encontrados na fazenda Buriti localizada a aproximadamente 15 quilômetros da área urbana do município de Aquidauana, na margem direita do rio de mesmo nome, sugerem o local como a segunda Xerez.
Análises dos indícios materiais mostraram que eles datam de bem antes da fundação de Aquidauana, que se deu somente no ano de 1892. O local já está sendo protegido pelo Poder público e professores da UFMS estão trabalhando na Fazenda Buriti, que chegou a ter 300 habitantes quando era Xerez. Sonho espanhol foi sepultado por problemas logísticos e de segurança O povoado teria sido fundado por Diaz de Gúsman que nasceu no Paraguai, segundo biografias, entre 1558 e 1560. Sua mãe era uma mestiça paraguaia de nome Ùrsula, filha do conquistador espanhol Domingo Martinez Irala com uma índia guarani chamada Leonor.

O pai de Gúsman era sobrinho de Alvar Nuñez Cabeza de Vaca (fundador de Assunção). De família de conquistadores, desde jovem era levado nas expedições e foi ganhando prestígio junto aos representantes da Coroa espanhola na bacia do Rio da Prata.

Em 1593 ele teria chegado em um local perto do Rio Ivinhema, meia légua do porto de San Matias. O local foi batizado de Santiago de Xerez. Foi ordenado que se fizesse um forte e uma vila, mas, as secas, o isolamento em relação à Assunção que era a cidade espanhola de maior porte logístico para eles, os ataques de insetos às plantações, perdas de colheitas e revoltas dos índios foram afundando os sonhos de Gúsman. Para variar nem catequisar os índios eles podiam, pois, não tinha nenhum padre no local.

Foi nessa época que após intrigas dentro da administração espanhola o fizeram parar na cadeia, onde ficou por três meses, sendo liberado após intervenção de representantes da Coroa espanhola. Os traidores foram presos em Assunção. Voltou para Xerez em 1595 e viu que o sonho estava desfeito. Tentou reergue-la e de 1599-1600 achou melhor transferi-la de lugar, uma vez que se não bastassem todos os problemas logísticos, os indígenas viviam atacando o povoado.

De 1602 à 1604 Gúsman se esforçou para refazer a nova Xerez, já na região de Aquidauana, mas, não dava mais. A cidade era pobre, não crescia, porém, mesmo assim se manteve até 1623, quando uma assembléia foi convocada para decidir sobre uma nova mudança. Os indígenas da região atacavam constantemente o povoado, como já acontecia na primeira Xerez, principalmente os Guaicurus e os Payaguás.

A assembléia decidiu que eles deveriam sair da segunda Xerez para um local chamado Yaguari. Porém, o problema lá não eram os índios e sim os mamelucos e portugueses que saqueavam e voltavam para a região sudeste do atual território brasileiro.

Resolveram suportar as dificuldades e ficar. Não demorou para que os portugueses achassem Xerez, que fragilizada caiu diante dos bandeirantes paulistas. Os espanhóis que ainda restaram, abandonaram a cidade e voltaram para Assunção ou colaboraram com os portugueses e foram para São Paulo. Tudo isso, possivelmente entre 1628 e 1632.

Na época as fronteiras entre territórios espanhóis e portugueses eram conflituosas e ninguém sabia ao certo onde começava uma e acabava o outra, o que só terminou de fato em 1750, mais de 100 anos depois do fim de Xerez, com o tratado de Madri.

Em 1682 o Governo Geral Espanhol tentou fazer alguma coisa para tentar reaver o território perdido para os portugueses tendo como entreposto Xerez, agora, recém povoada por paulistas ano após ano desde 1678. Não deu certo, pois já havia muitos “brasileiros” e portugueses no local, que transformara-se em entreposto para entrar em território paraguaio em busca de índios para escravizar. Era o fim do sonho espanhol em terras sul-matogrossenses.

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