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Polícia paraguaia está investigando outros traficantes brasileiros, diz delegado da PF

Polícia paraguaia está investigando outros traficantes brasileiros, diz delegado da PF

23 outubro 2011 - 09h30
Uol


O delegado da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal (Dcor), Vítor Poubel, afirmou nesta sexta-feira (21) que a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) está monitorando a movimentação de outros traficantes brasileiros no território do país vizinho. Na quarta-feira (19), a polícia paraguaia anunciou a captura de Alexander Mendes de Silva, o Polegar (ex-chefe do tráfico na favela da Mangueira), que desembarcou hoje no Rio de Janeiro. O criminoso seguirá para o presídio Bangu 1, na zona oeste.

"Eles [polícia paraguaia] não querem traficantes brasileiros atuando em território paraguaio. Eles já tinham a informação de que o Polegar e outros traficantes estavam atuando no Paraguai. A informação que temos é que essa prisão não foi por acaso, o Senad já sabia quem era o Polegar no momento da abordagem. (...) Sabíamos da existência de elementos [criminosos] que estavam em território paraguaio. Contamos com um adido policial no Paraguai e a troca de informações é frequente", explicou Poubel.

"Não posso passar mais detalhes desse trabalho porque a investigação ainda está em andamento para prender outros elementos naquela área. Eles vão e voltam, e traficam utilizando as fronteira. São elementos que estão refugiados no Paraguai ou que por ventura pretendem ir para lá", complementou.

O delegado confirmou a informação de que Alexander Mendes da Silva foi detido no momento em que tentava comprar um carro de luxo na cidade de Pedro Juan Caballero, conforme o UOL Notícias publicou na quarta-feira (19) --informações passadas pela PF em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, indicaram a hipótese de que ele teria sido preso em um lava-jato. De acordo com o delegado, os veículos ficarão à disposição da Justiça paraguaia.

"Ele estava vivendo uma vida fora dos padrões daquela localidade [em sua casa foram encontrados dois carros de luxo]. Depois que a polícia paraguaia constatou a documentação falsa, eles solicitaram à PF as impressões digitais e compararam com as individuais datiloscópicas colhidas no momento da prisão", disse.

Segundo Poubel, há um mandado de prisão contra José da Silva Targino Júnior, o indivíduo cujo documento era utilizado de forma ilegal por Polegar. Poubel informou ainda que o criminoso estava vivendo em Pedro Juan Caballero junto com familiares, mas não soube especificar quais eram. Os parentes de Polegar também já retornaram ao Rio de Janeiro.

Polegar, que foi expulso do Paraguai por uso de documentação falsa e entregue à PF de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, desembarcou no fim desta tarde no aeroporto Santos Dumont, e seguiu para a Divisão de Combate ao Crime Organizado (Dcor), onde passou pelo procedimento de identificação. Antes disso, realizou exame de corpo delito no Instituto Médico-Legal (IML). Ele será transferido ainda hoje para o presídio Bangu 1, no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Em nota, o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, já adiantou que solicitará à Justiça a transferência de Polegar para um presídio fora do Estado. A viagem do ex-chefe do tráfico na Mangueira foi feita em um avião descaracterizado e contou com escolta reforçada.
Histórico
Polegar deixou o comando do narcotráfico Mangueira por conta de desavenças internas na quadrilha --em seu lugar, assumiu Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que hoje é um dos traficantes mais procurados do Rio. Ele havia se mudado para o Complexo do Alemão, onde vivia numa casa de três andares, mas fugiu durante o processo de pacificação do conjunto de favelas, em novembro de 2010.

Alexander Mendes da Silva é acusado pela polícia de integrar o alto escalão da facção criminosa Comando Vermelho (CV), e estava foragido desde 2009, quando se aproveitou do benefício do regime aberto para se refugiar no Complexo do Alemão. O Disque-Denúncia oferecia R$ 2.000 de recompensa por informações que ajudassem a prender o criminoso.

Segundo as investigações, no Complexo do Alemão, Polegar era o responsável por gerenciar várias bocas de fumo em troca de parte do lucro. Durante a ocupação em 2010, Polegar conseguiu abandonar a favela escondido em um Gol descaracterizado da polícia.

A informação anônima foi encaminhada ao Ministério Público Estadual e à corregedoria da Polícia Civil. Segundo o informante, Polegar estaria acompanhado de outro criminoso, identificado como Ninho. Eles teriam sido colocados no porta-malas de um Gol preto, dirigido por dois policiais. Na véspera, havia ocorrido a fuga em massa de traficantes da Vila Cruzeiro em direção ao Alemão.

Polegar responde a cinco processos criminais, sendo o último protocolado pelo Ministério Público em 2003. De acordo com a denúncia, Alexander Mendes da Silva utilizou laranjas para ocultar da Justiça o lucro obtido por ele na condição de chefe do tráfico de drogas na favela da Mangueira.

De acordo com o Disque-Denúncia, o histórico de Polegar é antigo. Ele estava envolvido em um ataque à Polinter, em 2001, que resultou na fuga de 14 detentos. No ano seguinte, ele foi preso pela extinta Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), em Fortaleza.

Condenado a 16 anos de prisão por tráfico de drogas e associação para o tráfico, Polegar conseguiu a transferência para o regime semiaberto, em agosto de 2009, graças ao benefício concedido pela 1ª Câmara Criminal. No dia 12 de agosto de 2009, o criminoso foi transferido para a Casa do Albergado Crispim Ventino, em Benfica.

Segundo o Disque-Denúncia, no dia 14 de agosto de 2009, Alexander Mendes da Silva deixou o local acompanhado de seus advogados e seguiu para a favela do Arará, tendo que retornar até às 22h para dormir, porém não mais retornou ao sistema prisional, tornando-se um foragido da Justiça.

Recentemente, Polegar e outros sete laranjas foram denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, onde responderão à ação penal na 2ª Vara Criminal de Santa Cruz pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.

Condenado a prisão por quatro varas criminais por crimes cometidos entre 1994 e 2002, o criminoso registrou imóveis e veículos em nome de pessoas sem antecedentes criminais. Segundo o Ministério Público, a ação revela absoluta discrepância entre a renda declarada ao Fisco e os bens dos réus.

A Justiça decretou a indisponibilidade de cinco imóveis do traficante, inclusive uma luxuosa casa em Cabo Frio, no litoral do Rio. Corretores da região avaliaram o imóvel, que tem três suítes decoradas e salão, em cerca de R$ 400 mil. Os outros imóveis do traficante foram localizados no Leblon, na Barra da Tijuca, em Jacarepaguá e em Niterói.

Durante o processo de pacificação no Complexo do Alemão, a Polícia Civil prendeu a mulher de Polegar, identificada como Viviane Sampaio, acusada de lavagem de dinheiro e associação para o tráfico. Viviane morava com os dois filhos do casal em um condomínio de luxo, na Barra da Tijuca.

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