Preso na Lava Jato, Bumlai diz que vai revelar "fatos ilícitos" sobre Belo Monte
Preso na Lava Jato, Bumlai diz que vai revelar "fatos ilícitos" sobre Belo Monte
24 dezembro 2015 - 09h15Por FOLHAPRESS
O pecuarista de Mato Grosso do Sul José Carlos Bumlai, o amigo de Lula que foi preso no final de novembro pela Operação Lava Jato, contou em depoimento à Polícia Federal que vai revelar "fatos ilícitos de que tem ciência" sobre a construção da usina de Belo Monte.
Uma das revelações que Bumlai fez, segundo a reportagem apurou, foi que ele ajudou a configurar o primeiro consórcio que ganhou o leilão para construir Belo Monte, mas não fez a obra por falta de capacitação técnica.
Esse consórcio foi estimulado pelo governo do então presidente Lula para pressionar as empreiteiras que haviam feito o estudo para construir Belo Monte (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht), as quais consideraram baixo demais o preço estimado para a obra.
O consórcio, que ganhou o leilão para a obra em 2010, era integrado por empresas menores, como Queiroz Galvão, Mendes Junior e Cetenco, junto com a Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco).
As grandes empreiteiras chamavam esse grupo de "aventureiros". Posteriormente, as grandes assumiram a obra, orçada em R$ 14 bilhões, em valores de 2010. Vários delatores já contaram à PF que houve pagamento de propina na obra de Belo Monte, para políticos do PT e do PMDB.
Os fatos narrados por Bumlai permanecem em sigilo porque vão fazer parte de um novo inquérito da PF.
Bumlai decidiu confessar irregularidades depois de ser preso pela Lava Jato, para tentar obter uma pena menor. Ele já assumiu que fez um empréstimo de R$ 12 milhões em seu nome, em 2004, mas que o dinheiro era para o caixa dois do PT, o que o partido nega.
LOBBY
Bumlai narrou em novo depoimento, o qual se tornou público nesta quarta (23), que ajudou a marcar uma reunião em 2014 entre o ex-presidente Lula e o embaixador do Qatar porque tinha interesse em vender a sua usina de álcool para uma empresa daquele emirado do Oriente Médio.
Em interrogatório anterior, o pecuarista disse que jamais tratou de negócios com o ex-presidente. A omissão levou o delegado Filipe Hille Pace a escrever no depoimento que Bumlai "continua a mentir e omitir sobre fatos relevantes para a investigação".
Bumlai queria vender a usina porque seu grupo empresarial de Bumlai, chamado São Fernando, está em recuperação judicial desde abril de 2013, com dívidas de R$ 1,2 bilhão. A Folha de S.Paulo revelou nesta quarta (23) que o BNDES pediu a falência "imediata" das empresas de Bumlai porque não recebe nada delas há um ano. A dívida de Bumlai junto ao BNDES soma R$ 300 milhões.
Em email apreendido pela PF, de 21 de fevereiro de 2014, Bumlai escreveu o seguinte ao secretário da embaixada do Qatar: "Estive hoje tratando do assunto, e o ex-presidente Lula volta dia 27 de fevereiro para o Brasil e marcará a data conforme solicitado no email da embaixada, ou seja, antes de 19 de março".
O pecuarista relata algumas peculiaridades de sua amizade com Lula, a quem conheceu em 2002, quando emprestou sua fazenda em Mato Grosso do Sul para a gravação de um programa para a campanha eleitoral.
Segundo o pecuarista, Lula "nunca possuiu um número de celular próprio". Quando queria falar com o ex-presidente, Bumlai disse que ligava para Marisa Letícia Lula da Silva, a mulher de Lula.
Ele negou ao delegado que tenha exercido as funções de "secretário" de Lula. Bumlai contou que quando recebia demandas relacionadas ao ex-presidente, as repassava para Clara Ant, diretora do Instituto Lula e responsável pela agenda do ex-presidente.
Procurado, o Instituto Lula não quis se pronunciar.