Risco de quebra nos EUA é maior do que antes da crise
01 setembro 2011 - 09h55Por Claudia AntunesO risco de quebra do sistema financeiro dos EUA ainda é maior do que antes da crise iniciada com a falência do banco Lehman Brothers, em 2007, advertiu Robert Engle, que ganhou o Nobel de Economia em 2003 por cálculos que permitem prever o retorno de investimentos.
"A alavancagem não foi reduzida nem para os níveis anteriores à crise", disse, referindo-se à relação entre o dinheiro que está emprestado e o capital dos bancos (quanto maior essa relação, mais risco).
Em palestra na EPGE (Escola de Pós-Graduação em Economia) da FGV do Rio, Engle apresentou as equações desenvolvidas por sua equipe na Escola Stern de Negócios da Universidade de Nova York para medir o risco sistêmico de instituições financeiras.
As tabelas que podem ser consultadas no site http://vlab.stern.nyu.edu incluem um ranking de risco encabeçado pelos bancos Bank of America, Citibank e JP Morgan. Se houvesse outra crise bancária hoje, disse Engels, só o Citibank precisaria de US$ 200 bilhões do governo americano.
O Nobel insistiu na necessidade de regulação do mercado financeiro para evitar novas crises, e lamentou o atraso na implementação da Lei Dodd-Frank, aprovada pelo Congresso americano para aumentar a vigilância sobre os bancos.
"Faltam cerca de 500 regras que têm que ser escritas pelas agências regulatórias. Todos estão trabalhando muito duro, mas são regras complicadas e há muito lobby acontecendo."
Para o economista, o cenário político vem impedindo o governo dos EUA de adotar qualquer política forte para superar os efeitos na economia real da quebra bancária de 2007 e 2008. "Há uma parte do Partido Republicano que acha que, quanto pior a economia estiver, melhor será seu desempenho nas próximas eleições. Isso é uma receita para não haver acordo."
Engels disse que não conhece a fundo a economia do Brasil, do qual é apenas um "observador interessado". Considera que o país é um dos "milagres" da última década, em termos de crescimento, mas que não está imune a riscos. "O maior é que isso esteja acontecendo rápido demais, e que a infraestrutura e as instituições não consigam acompanhar."
Esse risco e as incertezas da situação global, recomendam que os atores econômicos brasileiros evitem a euforia. "Todo mundo, investidores, empresários, reguladores, instituições financeiras, deve se manter um pouco mais conservador."