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Desempenho de alunos indígenas de Amambai no Enem reflete condição de vida

Desempenho de alunos indígenas de Amambai no Enem reflete condição de vida

30 novembro 2012 - 14h10
Divulgação (TP)

As notas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não refletem um problema na escola, mas sim, na condição de vida dos alunos da rede pública de ensino. A opinião é da doutora em Educação, Maria Dilnéia Fernandes, e foi publicada no portal G1, na matéria “Com pior índice no Enem em MS, escola enfrenta evasão e dificuldades”.

A matéria informa sobre o desempenho da Escola Estadual Indígena Mbo Eroy Guarani Kaiowá, da rede de ensino de Amambai. A unidade escolar, que está localizada na aldeia Amambai, obteve o índice mais baixo no Enem de 2011 em Mato Grosso do Sul, obtendo nota de 400,2, conforme resultado divulgado pelo Ministério da Educação (MEC).

No mesmo município, a escola com maior desempenho no Enem, da rede estadual, obteve 566,4. As demais obtiveram: 489,0, 499,3 e 551,6; esta última, nota de escola da rede privada.

“O aluno que se concentra na rede estadual é uma pessoa com um projeto de vida dividido entre fazer uma boa escola de ensino médio e ir para o mercado de trabalho para ajudar no sustento da família”, disse ainda a doutora Maria Dilnéia.


Questão social


No Ensino Médio, segundo a diretora da escola, a professora Nídia Eliane Peixer, não é difícil encontrar alunos com idade de 20 anos, jovens que não conseguiram terminar os estudos no tempo regular. “Têm alunos que deixam a escola para trabalhar, ajudar a família e voltam no ano seguinte”. Outra situação é a gravidez precoce, que acaba determinando a saída das indígenas e dos pais ainda adolescentes, que precisam de emprego para sustentar a nova família.

Nídia Eliane Peixer avalia que o problema inicia bem antes do aluno estar no Ensino Médio. “Tem toda a questão da dificuldade dos alunos em relação à língua”. Ela diz que a grande maioria dos alunos indígenas em casa só fala o guarani. “Se comunicam com os pais e familiares em guarani e começam a falar em guarani; quando chegam à pré-escola, os professores são todos indígenas, aí eles dão o suporte para eles, a maioria dos conteúdos é repassada em guarani no ensino fundamental, nas séries iniciais”, explica a professora.


Difícil acesso


Outra dificuldade destacada por Nídia é o difícil acesso ao local do Enem. No caso dos alunos da Escola Estadual Indígena Mbo Eroy Guarani Kaiowá, localizada a cerca de 5 km da cidade, a grande maioria deles realizou a prova em outra escola estadual distante aproximadamente 10 km de suas residências.

“Os alunos saíram da aldeia para fazer a prova na escola Vespasiano, muitos foram no primeiro dia e no segundo não foram”, relata ela. Outros ainda, continua, acabaram não fazendo a segunda prova por falta de perspectiva mesmo, eles acham que é uma coisa muito distante da realidade em que vivem.


Enem não aceitou documentação da Funai


Outro problema enfrentado pelos jovens é em relação à documentação pessoal. A coordenação do Enem não aceitou o documento de identidade indígena expedido pela Funai; a exigência foi o documento civil, que muitos não têm. Ainda houve também alunos que se inscreveram para o Enem, saíram de casa para fazer a prova, mas não fizeram-a.

A professora e coordenadora da área de Língua Portuguesa na escola, Mirian Alves, enfatiza a questão do documento: “14 alunos, muitos impedidos de fazer a prova por causa do documento, não podem representar a realidade de uma escola, que é falha sim, mas comprometida com a educação indígena”.


Depoimentos


“Trabalho nessa escola e posso dizer que esses alunos são guerreiros. São discriminados, muitos vivem em um ambiente familiar precário e sem nenhum apoio. Temos alunos egressos que estão formados e trabalhando em diversas áreas. Outros estão cursando Física, Engenharia Ambiental, Letras, Enfermagem, Direito e outros. Inclusive, o texto de aluna nossa foi selecionado na OLP 2012 a nível Municipal para a etapa Estadual”, comentou a professora na matéria do G1.

A opinião é compartilhada pelo professor e coordenador da área de Matemática, Suzenilto Amaral: “No ano de 2011, os alunos indígenas que possuíam somente carteira de identidade indígena, foram barrados e não puderam fazer o Enem, só fizeram o exame os alunos que apresentaram documentos oficiais com fotografia, como por exemplo, carteira de trabalho ou/e CNH. Esse fato explica o baixo rendimento dessa escola, provas desses alunos barrados foram corrigidas sem nenhum aproveitamento, pois os mesmos não estavam lá para fazê-las. Antes de criticarmos precisamos saber o que realmente aconteceu”.

Ensino com qualidade

A diretora explica que toda a escola está engajada na qualidade do ensino. “Sobre o Enem na escola, os professores trabalham em cima de simulados de outras instituições, fazem redações com os alunos e os coordenadores de área também estão presentes procurando colaborar no desempenho dos alunos”, explica Nídia.

O capitão da aldeia Amambai, Rubens Aquino, também atesta a qualidade ensino na escola: “A escola prepara bem os alunos, são todos profissionais na área da Educação”. Ele cita como exemplo os diversos alunos formados na Escola Estadual Indígena Mbo Eroy Guarani Kaiowá, que cursaram uma universidade e hoje são profissionais em diversas áreas.

Para Rubens Aquino, o difícil acesso ao local da prova foi a principal dificuldade enfrentada pelos alunos. “Tem a dificuldade de sair da aldeia e ir para a cidade, muitos fizeram a prova no primeiro dia e no segundo não foram fazer”, confirma o capitão.


Da Moreira Produções
Assessoria de Comunicação

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